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Espelho Nosso

De cima não se vê os detalhes, não se vê o brilho dos olhos, e não sente o calor de um bom abraço. Do alto só se tem a companhia do passado das estrelas, no seu gélido brilho. Solitário é esta vida, pois o que é, não é: fora um dia. É explosão de vida que hoje nada mais é do que lembranças plácidas, cinzas... De cima, você tem todo o tempo de refletir, pois não há mais nada com o que se ocupar. Não há ninguém, pois todos estão cá abaixo, errando as suas vidas curtas e vis. Você não vê nossas mãos sujas de esperanças, enquanto brincamos de pequenos conquistadores dos nossos medos. De cima não se toca o meu corpo e não percebe os meus gestos. Você conquistou tudo para não ter nada além do silêncio. Do alto, não há meios de você sentir o sabor dos meus lábios, em beijos demorados, o que tem são lembranças não do que foi, mas do que podia ter sido.

O Diário de Teegoh – Semana 20

Não há mais motivos para continuar aqui. É fato. Não há esquina ou corredor desses templos de carnificina que eu não estive. Minha vida tornou-se um clichê do personagem duplo, e isso não é o meu jeito. Não por conveniência ou qualquer outra fator social. Tive que olhar para os olhos da desgraça para descobrir-me. Acato a decisão da minha mãe. Parto amanhã, à surdina do crepúsculo. Adeus terra de ninguém. Não sentirei saudades dessa terra banhada de sangue de inocentes sonhadores tolos. Creio que ao acordar no verão parisiense o sol apenas enaltecerá os tolos que acreditam no amor: que felizes vivem. Não entendo mais os motivos de ficar ou de partir. O que antes era busca agora é total lugar vazio, mas não um lugar onde serviria para completá-lo com algo... apenas um vácuo, inerte e inodoro de vida morta.

Resposta à Solidão

Se, por acaso, você acordar com uma vontade insólita de esquivar-se do mundo e ter consigo apenas a sensação de que não há mais motivo, vontade ou qualquer outra coisa; Se te faltarem palavras, ou se elas parecerem obsoletas para metamorfosearem-se em sentimentos escritos, ou se nem os desnudados assaltos de cólera lhe tiram para dançar; Se não ti sobrarem vontades de voltar, de ver as brumas daquelas terras ou ouvir um som qualquer que só naquele mundo é pintado como em um quadro antigo de todas as cores; Se, por fim, carrega em ti apenas uma esperança, mas que escapa dos teus dedos e voa com este vento de dezembro, o caminho mais curto é se jogar deste alto lugar... E buscar a tua resposta à solidão.

Ao cardo

Suposta alegria de comemorar, eu sou a ironia desses tempos. Sou o avesso do ordinário, de dias arrastados em flocos vazios. Posso dizer contudo que não há nada melhor que ouviro rastro raro de tuas palavras, ao canto do ouvido. São poucas as tuas palavras, eu sei... Mas, mesmo que fosse um “olá” apenas, seria o suficiente para mim, pois, não há sensação melhor do que a de te sentir vivo. Sinto que o amanhecer se aproxima com os ventos da juventude perdida.

Os Quatro Fastasmas do Natal (Parte 4)

Fiz desta vida um jogo de lugares Onde meu destino era o amanhecer Voei longe para descobrir os azares De querer saber o que era o entender Busquei o abraço acolhedor de milhares E de todos que tomei, poucos pude ver Um sentido além dos precários pilares Para amenizar a carência deste vazio ser. Foi com a cor do movimento que me fiz viril E consegui cantar junto dos reis imaginados Num banquete farto de um mundo febril. Mas a beleza das minhas asas tornara-se vil E meus passos das musicas foram separados. Falece sozinho o sonhador de um sonho juvenil. Brigar com a alma é perder a essência Adorar as regras é assumir sua pequenez És solidão

Os Quatro Fastasmas do Natal (Parte 3)

Sábios devaneios, naquela noite não contida Onde a música enaltecia os sonhos do sentido fazendo a alma agitar-se no ritmo da batida e o corpo desnudar-se ao estar entorpecido Mirei os olhos da fada verde, enquanto ermida No bojo de palavras tortas e doces, havia sido. Pulei nos céus dos teus beijos fartos de vida Caindo no sabor fácil da boemia acometida. Daquela festa, os prazeres se enfileiravam Ao gosto e gesto dos fregueses exigentes Mas até as noites para os dias se quedavam. E assim os doces sabores se transformavam Em lembranças nostálgicas e prepotentes De despedidas que nunca se acabavam. Não se enxerga sem antes conhecer a escuridão Não se extasia sem pular no ritmo dos sentidos. És diversão

Os Quatro Fastasmas do Natal (Parte 2)

Sou terço de ti, que um dia sentirás saudade Pois nosso tempo sonda a tristeza do adeus Guiam-nos nas certezas incertas da maturidade De um filho quem sabe, ou na busca por Deus. Quero que desfrute da minha insana integridade Entre estes lapsos e motins desses versos meus Pois cogito ser o néctar desta nossa doce idade A amarga constatação de fantasiosos apogeus E como sobra a intenção em chama bendita Criará o cristal, das tuas boas lembranças E fará a jazida de uma memória bonita Sem questionar a pungente agonia finita Que finca teu coração de vis esperanças Terá em ti o nós na tua bela escrita Não há conhecimento sem profundidade Não há integridade sem paradigmas. És amizade.

Os Quatro Fastasmas do Natal (Parte 1)

Se de mim, o gosto entre teus lábios sentira Sabes que não há semelhante suave sabor E meu encanto não somente toca tua lira Mas desnuda a pele macia do teu furor. Tu apreendes os gestos e às nuvens se atira Voa encantado por rumos de ti, sem temor. Vive o segundo interminável desta mentira Até perceber-se como um grande desafiador. Desconhece a fragilidade das tuas asas Mas brinca de desbravar o desconhecido Perde o medo de achar entre as brasas Canta curiosidades e ignora as defasas E toca o corpo de Eros de modo atrevido Para encontrar respostas em tabulas rasas Não se perde, pois não tem onde queira chegar. Não se ganha, porque não tem o que perder. És liberdade.

Ingênuo

Brinquedo de sonhar e esquecer a realidade. Jogo de palavras cruzadas, tortas todas são... Mas do que é feito toda essa nossa verdade, Se não de um pouco de tudo da nossa ilusão? Somos brincalhões nessa tenra e torpe idade. Entre brincadeiras fúteis, que depois se vão. E jogados para o alto, entre o vulgar e a vaidade. Para procurar quem é, ou uma outra versão. A pele pode revelar o perfume e a sensualidade O toque torna-se o gesto do desejo e da intenção Desnuda os pudores de quem busca intensidade, De quem sonha com o mar de fulgor, de paixão. E se o pecado é um dos signos dessa cidade, Busco o silêncio de um brinquedo de condão Mas o charme do desconhecido traz fogosidade E eu brinco de ser todas as cores dessa volição.

Assim como eu

Percebe os pés das crianças, aos passos ligeiros caminhar. O tempo brinca em derramar as folhas secas e os mais velhos se vão para sempre. Os mais novos se vão e você assiste ao espetáculo da morte na poltrona privilegiada Você delicia-se com a engenhosidade das colocações: as ninfas apresentam as relativas horas a correr... são elas também ingênuas crianças que dançam descompromissadamente aos sons das despedidas. Elas são belas e cegas. Enquanto isso você percebe-se exatamente como é: um expectador da morte. Espera. Ensaia. Revolta-se contra o enredo... Mas, ao sétimo sinal, mesmo sem saber como, sobe ao palco e nunca mais saberá se estava ou não preparado para tal atitude. Você se despede daqueles que ama, sem dizer que os amam. Você não chora, pois é incapaz de se expressar. Você desmancha-se entre os vermes da terra. E volta exatamente para onde você saiu. Existência vil. Perguntaria se valeu a pena. O milagre da vida, de tão incompreensível e improvável torna-se brincadeira de cr

Luck

Um dia, sem pensar, fui atrás de uma pergunta. Conheci o mundo sem por os pés para fora de mim. Passei por tantas coisas que não devo nem começar a mencioná-las. Insignificantes são. Vivi em ti e nunca esquecerei dos sonhos, de quando eram os meus. Agora eles se foram. Não há como falar. As letras cortam meus dedos ao dançarem descalças no salão da minha alma. E se a negação torna-se forte, como um fato indescritível, só resta-me, entre minhas palavras, brincar em não acreditar no que foi traçado. Sou o dono da locomotiva que destrói castelos de vidros, mas não sou de abandonar minha morada, por mais frágil que ela seja. Mas tão belo é o teu sorriso em minha mente. És real? Parece-me tão belo o teu sorriso! Posso sentir ainda o perfume que não existe, você vem calmamente e abraça-me... você desaparece entre as brumas dos meus sonhos. Você morre. Rego as tulipas, pois amanhã será o inverno e elas partirão de mim.

O Diário de Teegoh – Semana 19

Já não entendo os motivos que me moveram à esta insana busca. Qual é o preço a se pagar... Por Deus, conto a felicidade como se fosse mercadoria a se comprar! Quantos sorrisos mais terei que dar para as donzelas desse reino de bestas? São elas tão frias quanto seus pais e maridos. Tolas. Não acredito mais na felicidade. Um dia pensei ter encontrado o meu objetivo. Fiz eu dele um corredor de obsessões. Mas meus sentimentos são confusos e não quero mais brincar. Quero deixar esse palácio de horrores disfarçados. A fumaça que escapa dos charutos dos comandantes são tão desprezíveis e insuportáveis como contemplar a fumaça da fogueira dos soldados mortos. Tenho que admitir, ele se foi. Resta-me ainda admitir o que se fica. O que devo fazer com tudo isso aqui? Despejar no mar... Queimar no fogo... saltar num precipício... sucumbir-me para talvez te encontrar em um outro lugar mais agradável. Em terras de monstros, a morte é a maior dádiva.

Saudade

O acaso desta canção é o desenho da minha tristeza Que se fez nas ondas e naquele papel partido perdido, Ao lembrar-me da tua voz furtiva, como rara beleza Calei-me ao contemplar aquele nosso sonho contido. Porém, quem sabe talvez, ainda haja uma certeza! E o amor que um dia me jurou, hoje adormecido, Seja capaz de abrir os olhos, num ato de delicadeza E aquilo que era impossível tornar-se-ia acontecido. Se faltar paciência, serei a harmonia. Se sobrarem as dúvidas, serei a compreensão. Se acabar os sonhos, construiremos os nossos. Se abolir a vontade, eu sorrirei pra ti. Se parar os movimentos, serei teu caminho. Se quiser chorar, um soco, te darei. Te amo.

Prólogo

Brinquedo de papel, pra dizer sobre as coisas reprimidas e sobre tantos outros mundos desenhados, cortados, pintados e colados.... perdidos enfim, no silêncio e solidão. Um menino descobre o mundo nos moldes que ele mesmo criou. Em suas aventuras ingênuas por debaixo d’água e para além de marte. Lugares mortos pelos homens. Um menino cria seu castelo e lá vive uma eternidade. Constrói seus sonhos, que tornam-se metas e se perdem entre o caminho todo. Transformam-se em espuma. Boneco de papel, figura de luxo e rara. Palavras proferidas em gestos mudos e olhares perdidos. Minha vida é contada num cenário fingido. Sou o ator de uma farsa.

Liberdade

De repente você se pergunta: o que és neste mundo? Onde estão as borboletas de nossa intimidade? Onde estarão as palavras daquela nossa verdade? Não há mais paz nem sossego neste silêncio imundo. Nessa imensidão, tantas coisas pra dizer e fazer E só penso em você... que se faz tão dura comigo. Nunca deixar de ser um bom e sincero amigo. Penso nos teus braços buscar o azul e permanecer. Mas se és volátil, sem lugar, sem cor, sem gosto. Explica-me, por favor, porque dói tanto gostar. Gosto de pensar em ti, mesmo sem saber o que é amar. Gosto de sonhar contigo, mesmo sendo eu um tosco.

Perdido

Lá... bem longe, perto apenas das idéias nunca reveladas e dos cantos impronunciáveis eu passei aquela noite. Num ato que parecia ingênuo ser, no meio das montanhas de livros em branco, e assim por acaso você encontrei numa brincadeira nada infantil. Pouco se passa, o encanto se instala, a voz se apresenta e as ilusões dançam sem as preocupações de um adulto em formação (de algo). Mas, como todo canto, o dote era mais inebriante do que os longos e frios dias de agosto. Sem pestanejar, a música silenciosa anunciava a chegada da grande valsa. Naquele salão, as velas davam o tom de solenidade e eu estava à tua espera. Meu sexo era teu e nem a pior das crises poderia atingir-me naquele instante. A poucos passos de sentir o teu perfume, o balanço das chamas cantarola entre mil aromas diferentes, elas são graciosamente tocadas pelo vento do luar, e assim tornam-se fiéis expectadoras de um baile sobre mim mesmo. Trajando apenas a sombra da noite, mas tocado pelo brilho das luzes dança

Rotunda Roda Rotineira

É como andar por toda uma multidão, em uma grande avenida movimentada de uma cidade movimentada. Você se dilui em plena insignificância de ser mais um qualquer, mais um ninguém. Mas há uma pseudo ordem, uma organização social que faz de uns aqueles que vêm e de outros aqueles que vão. Parece uma balança que se equilibra numa dança perfeita, e ainda há aqueles que enxergam a fragilidade desse caminhar como a ingênua face da ilusão. É como uma barca à navegar sem rumo. Um capitão diz que vamos para Zulia. Alguns pensam que lá é o paraíso, outros são céticos e ninguém se percebe, pois lêem os livros dos dias e contam as horas para os parentes presentes e mortos... Um capitão esquizofrênico a brincar de Moisés, cria seus filhos na entorpecida ilusão de humanidade pós-moderna, pós-utópica, pós qualquer outra coisa. E você ainda se preocupa, afinal sente-se importante para aquela meia dúzia de coisas anódinas. Você se move conforme o vento que te quer carregar. Mas suas folhas são feitas de

O Diário de Teegoh – Semana 18

Se quiser destruir um sistema, comece por destruir os símbolos que o carrega. Os porcos dançam lá fora, bebem a tristeza do vinho para desviar a atenção do corpo do insuportável cheiro de podridão. Contudo não posso reclamar de estar cercado por ignorantes, não foi preciso mais do que um pouco de proximidade e meia dúzia de palavras fáceis para conseguir acesso aos arquivos secretos. Aqui eu não sou Teegoh. Mudei meu nome antes de começar a minha busca por motivos óbvios. Ao mesmo tempo em que um nome pode ser um símbolo e desvincular-se do seu pode significar perda de sua essência para mim aconteceu o contrário. Encontro-me comigo mesmo no silêncio das palavras, como se tomasse férias do mundo enquanto ele não é digno de minha presença. Até eu retornar, se é que isso um dia acontecerá, sou apenas um soldado que faz o possível para não sucumbir à loucura. Hoje me entrego à esperança outra vez! Pierre não esteve aqui e essa foi a melhor falta de notícias que tive, pois sei que ele não e

Desejos e medos de um ser noturno

Acalme-se o dia já vai nascer. Não é mais necessário temer o crepúsculo, pois amanhã não haverá mais passado. Tuas histórias foram bem guardadas na gaveta mais escura de tua mente e agora pode deliciar-se com as orgias mundanas. A noite, sorridente como a lua em seus quartos de vidas, é criança calma agora. Não há mais fantasmas, corrimãos, estátuas ou peça de decoração remendada. Não há mais pessoas, responsabilidades, expectativas alheias. Você está só e a noite é rósea em seu intimo ventre. Dança com ela a boemia de uma vida conquistada. Torna-se homem viril nas peripécias fáceis, mesmo sabendo que a ressaca lhe trará a dor de ser sempre sozinho. Doce vício de perfume impar que, como o canto da sereia, inebria a alma com calores imprudentes de uma vida sem regras. Vida consumida pela comodidade estancada em conveniências Essa multidão de corpos e semi-deuses ostentam suas verdades e tatuagens enquanto você passeia totalmente nu pela escuridão, na esperança de sentir-se tocado pelos

O Diário de Teegoh – Semana 17

Cumprindo as funções burocráticas desse recinto de danação só sinto a morte através do cheiro de sangue pobre vindo através dos ventos secos ou impregnado nas fardas de soldados que, por ventura, vêem até mim com uma ignorância infra-humana. Mas, mais sujos que os sapatos dos imbecis são os papéis que tenho que lidar. O comandante desse alojamento mal sabe ler, o que não me surpreender, afinal esse trabalho é para qualquer besta insana, não para um homem. Mesmo assim, quase nada tenho acesso. Geralmente pedem para traduzir algum folheto do inglês ou francês, pois pensam que são mensagens escondidas do grupo revolucionário. São armas para porcos sedentos por sangue. Porcos que fazem dos seus dias, composições de harmoniosas regências para uma sociedade caótica. Excrementos da sociedade brincando de dançar com debutantes em salões de corpos dos idealistas, que também são tão radicais quanto. Enfim, T.

Das crenças e contradições

Já sei que não retornas mais. Fui abandonado para sempre, e mesmo assim supliquei a ti. Rezei todas as orações, mas você não me ouviu. Ninguém conseguiu levar minha mensagem, enquanto você assistia placidamente minha tristeza. Admirava sua própria superioridade plácida, cultivando teu insólito silêncio, calcado de apatia... Você não veio enxugar minhas lágrimas pelo simples gosto de se sentir superior aos meus sentimentos banais. Já sei que minha calúnia não se resume à dúvida ou incertezas... Meu acreditar briga com minha racionalidade, que, por sua vez nem sabe mais o que são sentimentos. Mas minhas lágrimas se findaram e você continuou a observar-me nu, entronado entre as nuvens do outono, sem se importar com minhas fragilidades mundanas. Já sei que pra ti sou o nefando verme que impediu adão de provar plenamente o sabor do fruto. Mas agora não vou mais para o inferno, pois suas asas queimaram-se ao perceber minha indiferença. Sua beleza foi maculada ao tocar o barro dessa terra...

O Diário de Teegoh – Semana 16

Há tempos não me deparo com o prazer de um gesto. Não há nada que me mostre um belo ato. Não há mais histórias, passado ou futuro. Se há amor, não sei mais onde encontrar. Estou aqui por conta de uma loucura... Vivo entre dementes seres que se julgam heróis de verdade. Suas roupas são verdes acinzentados, para esconder o tanto de sangue que já derramaram em nome de qualquer coisa. As salas da penumbra enchem-se e esvaziam-se em uma velocidade incrível. Poucos saem com vida da sala 13, e aqueles que saem não retornam tão cedo para os alojamentos pois passam dias, as vezes, semanas em algo que chamam de enfermaria (mas um matadouro deve ser mais limpo do que aquilo). Às vezes tenho vontade de escrever tudo o que vejo, mas não é possível descrever o fedor de carne humana sendo queimada depois de apodrecida. Uma vez escalado para esse alojamento, homens chamados de soldados tornam-se arautos da morte, mas eu tento me manter lúcido para tentar encontrar nas palavras o sustento que me mantém

A inversa coincidência das cores

(ou a brincadeira do acaso) Sou a busca no teu silêncio das respostas que não chegam Sou as contas do bêbado que perdeu o caminho de casa Sou a contraditória inquietação de final de domingo Sou a besta atemorizante de mim mesmo todos os dias Sou o contrário das tuas cores Sou a outra parte na balança. Aquele que não te equilibra, que te desconcerta, Aquele que te leva à inquietação, à desordem, Aquele que te mostra a ousadia de um sim Aquele que brinca de inconstâncias Sou o contrário das tuas cores Sou a outra parte na balança. Sou o avesso de ti em palavras retas ou tortas Sou o outro lado de um círculo perfeito Sou o Tigre e você é o avesso ou Sou o Dragão e você: o oposto Sou o contrário das tuas cores Sou a outra parte na balança. Aquele que sou, é afeto azul. Aquilo que é, é inquietação vermelha. Somos o que quisermos ser. O que somos?

O Diário de Teegoh – Semana 15

Nessas celas, que dizem ser alojamentos (mas que são celas de condenados à loucura de poucos) estou entre tantos outros. O cheiro de sangue seco se mistura ao da terra maltratada pelos pés rápidos de soldados e presos. Sei que, na perspectiva de alguns, já aprontei muitas maledicências, mas o que eu vivencio aqui não é digno de memória. Aqui vivem a contar o desconhecido. Eles, os prisioneiros, não sabem se dia ou noite é. Quando voltam a ver a luz do sol pensam ter encontrado o paraíso, mas isso até perceberem que estão indo para a sala 13. Tão agourado é este número desde a época das bruxas ou mais para além. Talvez seja ironia do acaso, mas quem entra na sala 13 pode sair de lá em livre espírito, deixando por vez de vivenciar o que temo ainda ser apenas o começo de tamanha bizarrice. Mas nem todos têm a mesma sorte. Formando um rastro de sangue e sofrimento, saem os que respiram num fio de vida, carregados entre os braços de homens e marcas. Irreconhecíveis. Sozinhos. Enfim, T.

Cidades e vilões

Minha intuição se revela hoje como prelúdios de agouros. Fados são cantados sob o negro da noite enquanto as estrelas são ofuscadas pelas brumas deste inverno de solidão. Enquanto isso a relatividade mescla-se com a racionalidade. Teorias mesclam-se com o pragmatismo. E o que somos nós no meio de tudo isso? São sempre intempestivas as revelações que nos são proferidas. São tão fortes que nos causam náuseas e, muitas das vezes, expurgamos entre lágrimas e soluços, nossa indignação por sermos tão medíocres. Mas há uma beleza em percorrer o caminho do desconhecido... por quantos de nós mesmos já tevemos a oportunidade de nos depararmos no cotidiano? Dizem que há uma importância em se auto entender por caminhos um tanto conturbados. Eu acredito que isso seja importante. Mas, as respostas que nos dão são capazes de te satisfazernos por completo? Se houve algo “alá Freud” que nos motivou a ser quem somos, eu te pergunto onde se encontra os seres que somos hoje? Pois a revolta pode ter motiv

Outro Lado

Eu sei... muita coisa passou. Hoje acho que não sou quem esperavas. Não sou mais o mesmo... não teve jeito, o tempo também por mim passou. Também por ti ele passou! Foi quando aprendi a ver a tua relíquia. Se ao menos eu pudesse te dizer, mas me custa acreditar no que vejo. Pode falar... não há mais em mim aquele encanto indescritível, Ou aquele conjunto de ingênuos acordes que criamos sobre nós mesmos. Em algum momento uma idéia etérea fora destruída pela realidade cotidiana, Ou então até daquilo que mais acreditávamos, perdeu-se em um lugar qualquer. Mas, eu acho que talvez eu estive muito errado ultimamente. Andei por ai. Tentei encontrar-te, mas agora vejo que não achei nada. Devo ter me perdido em algum momento, talvez por desatenção, ou por algum outro motivo banal. O que dizer? Ou melhor, o que fazer agora? Será que o acaso quisera apenas passar seu tempo a pentelhar um desventurado? Deram-me flores perfumadas, que recebi com muita cautela. Tive medo! Mas, aos poucos fui me abri

Conhecer-se e quase ter um ataque dos nervos

Aviso: Este texto pode ser literal ou metafórico ou as duas coisas ou ainda uma outra qualquer... Eu acho que sou um rapaz que sempre buscou se alto criticar no intuito de buscar “auto-conhecimento”, ou, perceber-me minimamente. Às vezes, eu sei, até exagero um pouco. Contudo, mesmo assim, deparo-me ao olhar-me nos espelhos da vida com uma figura que de nada me agrada. Quando isso acontece, num primeiro momento, evidentemente, o alvo é o aparente, afinal, estamos falando de olhar-mos nos espelhos. Depois dessa primeira impressão, que é por si só um tanto traumática quando o que se vê não é em nada o desejável, tento continuar os meus afazeres como se nada tivesse acontecido, mas o meu mundo particular ganha outra perspectiva mesmo eu buscando cuidar do meu cotidiano da forma mais pragmática que é possível. Mas, confesso que não dá muito certo: são as roupas que parecem não cair bem, as fotos recém tiradas onde o rosto pode ser muito bem confundido com uma bola de basquete, e, pior de t