Assim como eu

Percebe os pés das crianças, aos passos ligeiros caminhar. O tempo brinca em derramar as folhas secas e os mais velhos se vão para sempre. Os mais novos se vão e você assiste ao espetáculo da morte na poltrona privilegiada

Você delicia-se com a engenhosidade das colocações: as ninfas apresentam as relativas horas a correr... são elas também ingênuas crianças que dançam descompromissadamente aos sons das despedidas. Elas são belas e cegas.

Enquanto isso você percebe-se exatamente como é: um expectador da morte. Espera. Ensaia. Revolta-se contra o enredo... Mas, ao sétimo sinal, mesmo sem saber como, sobe ao palco e nunca mais saberá se estava ou não preparado para tal atitude.

Você se despede daqueles que ama, sem dizer que os amam. Você não chora, pois é incapaz de se expressar. Você desmancha-se entre os vermes da terra. E volta exatamente para onde você saiu.

Existência vil. Perguntaria se valeu a pena. O milagre da vida, de tão incompreensível e improvável torna-se brincadeira de criança a correr e rodopiar entre pedras. E você lê o jornal, comenta o escândalo, trai a si mesmo e morre sem saber nada. Assim como eu.

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