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Mostrando postagens de 2014

O Maquinista (Parte 02) - Sobre a Graça da Posse

Aos poucos aquele galpão se tornou nossa casa. E os estranhos, uma cooperativa de individualistas. Não ficamos por lá tempo suficiente para escrever a história de gerações, mas isso também não se fazia necessário. Foi tempo suficiente para descobrir que logo ali havia uma encruzilhada e o maquinista que não existia, escolheu a revelia invadir aquele portal, ou túnel, ou passagem... seja o que for tinha aspecto de abandonado. Era, por fim, um imenso galpão. Percebi que havia confiado minha condução a um maquinista que não existia e agora, sem poder culpar algo que não existe, só me restava lidar com a situação exatamente do jeito que ela se apresentava. Foi o galpão que fizemos de lar, ou melhor, que invadimos e fizemos de lar. Logo em seguida chegou a família que morava lá. A mulher era irmã de uma grande amiga genericamente desconhecida, mas que ansiava por notícias (Mas, da mesma forma que nunca soube que ela tivera tido, de fato, uma irmã eu também nunca tive notícias dela).

O Maquinista (Parte 01) - Uma paz Anárquica

Cheguei, finalmente à estação do metro (que na verdade era algo mais próximo a uma estação de bondinhos super moderno – menos os próprios bondinhos, estes eram bem antigos). Passei a catraca e ocupei um curioso assento que ficava virado para frente da máquina. Este assento era bizarro porque eu o assumi desse modo. Ele impossibilitava qualquer outro ser humano com pernas de se sentar no assento da frente, cuja face se voltava para a lateral. O errado era este assento meio que improvisado porque eu assim, evidentemente, dizer. Não sei se sabia para onde ia. Mas estava feliz por estar indo para longe. Sentada perto de mim em outro banco convencional só que após o corredor estava uma amiga que mora na Itália. Ela, e seus cabelos vermelhos, não conseguiam esconder a irritação por conta de uma amiga nossa cuja única forma de se mostrar próxima é insistentemente pedir conselhos em Italiano. Fiquei chocado ao saber essa falta de paciência. Amizades voláteis. O bondinho não precisava

5 parágrafos do 'Pro-nome' individualista

Me mata aos poucos o desencontro. O amor, como ensejo utópico, transfigurado ao gosto do contemporâneo é refugio para a reprodução infinda de nossos fantasmas. Não há espaço para o simples gesto de desvelo. Afinal, o que antes eram proliferações de cuidado hoje são gestos de facilidades levianas. Me cabe a ação nada hercúlea  de  execrar cada momento de você inscrito sob minha pele. Não que isso seja algo difícil de fazer, afinal, na minha cama você não deitou. Os rastros desta história não são como as pistas de um bom romance policial, nem de literatura rápida para adolescentes.  Me sonda, contudo, a inquietação que se soma a minha incrível capacidade de tornar perfeitos argumentos fílmicos em histórias inteiramente fadadas ao esquecimento. E neste instante pouco me importo se você me lê como um homem orgulhoso por saber lidar com as imprudências de um desnorteado cupido. Me agrada o vislumbre de uma sala vazia. Por fim e Outra vez. Cujo breu já não mais afasta a minha ne

Dos Monstros Que Somos e Criamos

Ele escondia o rosto. E nas fotografias tornou-se o mistério que almejou. Ele conhecia cada feitio de si mesmo e dominava até o que menos gostava do próprio corpo. Para alguns, ele era àquele que se perdia, pois, em comparação aos irmãos, seu futuro não era traçado na forma que haviam moldado para ele. Não era assim que eu o via. Ele escondia o rosto. Mas mostrava o corpo sem o menor pudor. Dava ao seu leitor particular o gosto de um prólogo e, talvez graças à áurea ingênua que ele exauria , manejava sutilmente os desejos de quem o quisesse ler, de modo a oferecer-lhe apenas o necessário para brotar a necessidade de ler cada linha daquela criatura. Até o fim. Ele escondia o rosto. Já não do mesmo modo as suas partes mais intimas. Estas apareciam num furor típico da idade, enquanto os pelos pubianos e aquelas que escapavam para todas as outras direções, vastos, não demonstravam precaução em demonstrar o desejo momentâneo que por ali objetivavam estar. Já não se trata de um garo

Postura

Vou abrir uma garrafa de vinho e você vai me amar. Não se importará e nem vai querer descobrir se os sentidos que lhe causam o descontentamento pois o sabor do vinho no teu paladar envaidece os sentidos e lhe veste bem a necessidade de se embrenhar na simples necessidade do gozo vertiginoso. Minhas pernas não bastarão para te segurar junto a mim. Soube disso desde o primeiro encontro. Mas deixei conduzir-me pelo eterno segundo em que suas lágrimas e pragas rogadas para ele foram profanadas, e no meu ombro que elas caíram. Não me importo em ser o passageiro gesto do teu desespero. Este casual encontro foi desenhado para afogar os fantasmas ainda vivos de uma história que já acabou mesmo sem você querer. E sofrer. Mesmo que meu amor valha menos que o broto de uma erva daninha é o teu cheiro e teu sexo que perfuma meu quarto e meus pensamentos no agora. E vislumbro uma rara felicidade implícita, incrustada na minha pele, quando lhe sou o outro. O teu corpo veste o meu de dese

O Guardião do Esquecimento

Minhas histórias não são perfeitas. Aproximo-me dos sonhos não pelo gozo da fuga, mas como ato de reconhecer no âmago de mim a saudade de tudo que construí, mesmo que como um castelo de cartas de baralho. Despedia-me de um amigo nesse dia, me despedia também de uma necessidade. Sou metade de vontade e metade de erro, e somente te encontrei quando no seu beijo fiz pousada. Para mim, foi imortal. Você, na velocidade eufórica de todas as drogas e hormônios ditou um ritmo novo. Que evitou e destruiu qualquer possibilidade de reflexo, mesmo o de um espelho. Nos dias seguintes, foi esquecido por ti. E só me cabe ter a criada certeza que assim o fez para lacrar algo que deveria ser sacro, mesmo que você não o considera do mesmo modo os meus sentimentos.  De todo modo, pouco importa! Esqueça ou esconda nossos beijos no sabor amargo do doce, do absinto e das musicas que já não mais lembro. Torno-me o guardião de uma história de nunca aconteceu, mas vou zelar os gestos de te beijar, p