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Mostrando postagens de 2016

Carta de um aborto

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Aos poucos, a voz foi baixando, justo quando me levanto da mesa de almoço. As travessas ainda pesadas das medidas perdidas, cuja única vantagem era poder alimentar qualquer esperança perdida de entendimento. Ele não olhou para os meus olhos em momento algum. Havia medo em se reconhecer, ou eu lhe causava todos os rancores possíveis. Aqueles rancores que mesmo quando caídos no deslembro, ainda se faz presente no nosso temperamento e se tornam engrenagens das inseguranças e invejas alheia. As lagrimas vieram e eu não queria me acostumar vê-lo chorar. Mas a rotina nos traz apenas lágrimas entre as pontes intermináveis de silêncio entre um encontro e outro. Ele acendia o cigarro para tentar se acalmar. A voz se esvaziava algumas vezes, enquanto tentava brigar por espaço com as lagrimas. Nunca imaginei que poderia ser o passado tão presente, mesmo que quando todos desejam dias melhores. Enquanto eu me preocupava apenas em não me olhar no espelho das palavras, mesmo dedilhando em alguma

Sobre

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Desculpe. Está difícil resistir a todas essas nuances de você. Sou eu quem não acredita no amor, sou eu quem não consegue tirar os olhos de você. Vamos lá, olhe para mim. Neste e em todos os próximos momentos possíveis. Olhe com olhos de fome, cuja única vontade é vir me dizer todas as mais mundanas das palavras. Esqueçamos por alguns instantes que nada disso terá consequências. Não sejamos cristãos. Não mais. Estou sendo repetitivo. Não me importo. Se canse das minhas soluções improváveis para sermos dois. Sou a esperança termina quando começa a vida que criamos. Esqueça os meus monstros. Eles só ameaçam a existência deste imbecil que vomita inconsequências. Mas, veja bem, o teu nome pode ter qualquer ou todas as letras que existem, mas eu só me importo com aquilo que pode ser inventado.  Desculpe. Sei que sou trovão, as vezes assusto, mas o que seria eu se não o patético resquício daquilo que não existe mais? Sou aquilo que já se foi. Faço barulho. Mas, se pudesse causar qua

A metamorfose ou O triste fim de um trapo

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Acordei num canto escuro. Sentia meu corpo junto ao chão gelado. Já não era mais de carne. Não tinha sangue correndo em mim. Contudo, sentia cada expecto se formar ao sentir os tantos e variados odores de você. Ao mesmo tempo em que via as estrelinhas de poeira dançar naquele espaço, e tentava me enganar que aquilo tudo teria sido feito pensado em mim. Aos poucos, o quarto fez-se campo e assim um jardim imenso se formou, apenas pela minha força de vontade. Plantei e esperei pacientemente para colher minhas expectativas, cuidadas de maneira fraternal. Mas elas não brotaram. Os teus passos eram pesados demais e aniquilaram qualquer possibilidade de um novo ciclo. A essa altura, minha cor se desbotou. Não passava de um pedaço de pano sujo, daqueles que mal servem para limpar as indesejáveis fezes de um cachorro sarnento. Não podia ir contra a metamorfose de ser um não ser, contudo, perceber o meu deteriorar cada vez mais rápido ao limpar seus pés e suas bagunças egoístas não foi

O meu meu

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O meu meu, eu encontrei na esquina,  bem no cruzamento da solidão com a carência; Ele estava despido de ajuizadas intenções,  pois preferia carregar a necessidade do imediato O meu meu me fez esquecer o nefasto ao me mostrar todas as volúpias do seu sorriso; Ele trazia a alegria para um cotidiano pálido, o que eu não sabia era que ele não era só pra mim. O meu meu continuou a ser o que era, e já não cabia nas molduras que encomendei. Ele era um furor mascarado na juventude, cujas escolhas se pautavam no imediato O meu meu já não era mais meu, E então, percebi, que ele nunca me foi meu Ele ocupava o limiar das possibilidades para ser um pouco de si, para si mesmo. E, como dito assim foi, sem por nem tirar. Ele foi o que quis ser, invariavelmente... Sem ser de ninguém, nem dele mesmo. ... Compartment C, car 293 - Edward Hopper, 1938

O Desajustado

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Olhei para você, com olhos atentos, a fim de encontrar uma nova tonalidade nessa aquarela anárquica chamada sentimentos. Busquei os prazeres para o além de auto afirmar a frágil dignidade dos trinta e poucos anos, pois queria, na sutileza, descobrir que há possibilidade em surpreender-me através das brechas institucionais que nos acorrentam no cotidiano. Queria ser algo além do que um ventríloquo social, mesmo que apenas entre nossas quatro paredes alugadas ou margens desse retrato... Pensei que poderíamos ser mais que isso. A tela que reservei para você não estava em branco. Afinal, nenhuma boa história é contada a partir das distrações de uma suposta perfeição monocromática. Não precisava ser verbalizado, mas o caminho que podíamos percorrer juntos não teve o início em bodas de papel. Quis eu te ver, acima dos meus instintos e desejos. Por infortúnio, eu consegui o que queria. E no gozo daquilo que dizer resguardar para alguém especial, te trouxe todo o torpor de uma vida simple

O Substituto

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Trata-se de um dia ordinário. Mesma rotina. Mesmos péssimos hábitos, que não te deixa sair do lugar, mas também não te mata. Pois, há uma mesquinha virtude em vangloriar-se por aquilo que não tem. É pesado, desencadeia o ódio... É frustrante, mas, por outro lado, escancara a emergência da vida. E essas situações são perfeitas para se esquivar da necessidade da aceitação. No princípio, podia me sentir bem quando me esforçava e conseguia me moldar às situações. “Fazer-te bem, me deixa bem”. Mas, a verdade é que esperava que o rio do teu gênio fosse dosado pela necessidade de acreditar no amor. Cada cena assim, me deixava tão bem quanto um soldado que voltara para casa sem uma perna. Eu já me como se membro algum me restasse ainda. O cotidiano não é o culpado pelas minhas escolhas ansiosas. Todos os meus sorrisos foram sinceros, mesmo aqueles que o preço foi muito além do que eu podia arcar. Sou a escala das escolhas em tempos onde a pedra mais preciosa para maioria está no própr

A Imprecisão dos Atos

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O silêncio se concretizou como uma muralha entre nós. Eles foram decorados pelos mesmos e voláteis painéis do cotidiano postados, mas não representam quem você é. Ou, no mínimo, não prefiro acreditar que não refletem o que se passa dentro do seu coração. Lá você é um apenas um alento, já eu prefiro os sabores de todas os teus amanheceres. Temo não conseguir. Há uma pungente energia que ao te repelir, te anseia em meus braços novamente. E se, por um instante eu fraquejei o orgulho que te consome, saiba que esta era a minha atenção. A mesma intenção dos nossos primeiros encontros, primeiros afetos.... Todas elas se esvaecem ao tocar a imprecisão de seus atos. O cotidiano me suga o tempo etéreo dos prazeres, enquanto envelheço nas tenacidades das possibilidades não cumpridas. Ainda nesta idade, pateticamente, me permito me perder pelos caminhos de suas traquinagens juvenis. Como se a única resposta possível para um sentido dessa vida fosse dar vazão aos seus passos inconsequentes

Pequenas missões

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Te olho bem no fundo dos teus olhos e tento passar algumas mensagens secretas. Daquelas que não posso verbalizar pois implicaria em me expor demais. Demostrar toda minha fragilidade trasvestida de inveja de todo o amor e ele não ser para mim. É que como se construísse pontes eternas através das ondas entre o silencio e a imensidão que existe dos nossos olhos, quero te dizer que está tudo bem, mas sou chama inquieta, que me consome por dentro. Minhas ações são meros resultados deste universo de mim mesmo. Vá! Deixe-me com minhas necessidades senhoris. Os ciúmes de ver você todo envaidecido com suas pequenas missões para si mesmo, já não me deixa ser mais uma pessoa decente. Sou o resta de um certo rapaz que tem a impossível missão de ordenar o caos de amar. E, como em uma oração, rogo para que a solidão seja companheira solidária. Que me traga enfeites capazes de disfarçar toda minha incapacidade de ser bom. Por fim, fico com a sensação de que desafiar o impossível é trajet