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Mostrando postagens de dezembro, 2009

Espelho Nosso

De cima não se vê os detalhes, não se vê o brilho dos olhos, e não sente o calor de um bom abraço. Do alto só se tem a companhia do passado das estrelas, no seu gélido brilho. Solitário é esta vida, pois o que é, não é: fora um dia. É explosão de vida que hoje nada mais é do que lembranças plácidas, cinzas... De cima, você tem todo o tempo de refletir, pois não há mais nada com o que se ocupar. Não há ninguém, pois todos estão cá abaixo, errando as suas vidas curtas e vis. Você não vê nossas mãos sujas de esperanças, enquanto brincamos de pequenos conquistadores dos nossos medos. De cima não se toca o meu corpo e não percebe os meus gestos. Você conquistou tudo para não ter nada além do silêncio. Do alto, não há meios de você sentir o sabor dos meus lábios, em beijos demorados, o que tem são lembranças não do que foi, mas do que podia ter sido.

O Diário de Teegoh – Semana 20

Não há mais motivos para continuar aqui. É fato. Não há esquina ou corredor desses templos de carnificina que eu não estive. Minha vida tornou-se um clichê do personagem duplo, e isso não é o meu jeito. Não por conveniência ou qualquer outra fator social. Tive que olhar para os olhos da desgraça para descobrir-me. Acato a decisão da minha mãe. Parto amanhã, à surdina do crepúsculo. Adeus terra de ninguém. Não sentirei saudades dessa terra banhada de sangue de inocentes sonhadores tolos. Creio que ao acordar no verão parisiense o sol apenas enaltecerá os tolos que acreditam no amor: que felizes vivem. Não entendo mais os motivos de ficar ou de partir. O que antes era busca agora é total lugar vazio, mas não um lugar onde serviria para completá-lo com algo... apenas um vácuo, inerte e inodoro de vida morta.

Resposta à Solidão

Se, por acaso, você acordar com uma vontade insólita de esquivar-se do mundo e ter consigo apenas a sensação de que não há mais motivo, vontade ou qualquer outra coisa; Se te faltarem palavras, ou se elas parecerem obsoletas para metamorfosearem-se em sentimentos escritos, ou se nem os desnudados assaltos de cólera lhe tiram para dançar; Se não ti sobrarem vontades de voltar, de ver as brumas daquelas terras ou ouvir um som qualquer que só naquele mundo é pintado como em um quadro antigo de todas as cores; Se, por fim, carrega em ti apenas uma esperança, mas que escapa dos teus dedos e voa com este vento de dezembro, o caminho mais curto é se jogar deste alto lugar... E buscar a tua resposta à solidão.

Ao cardo

Suposta alegria de comemorar, eu sou a ironia desses tempos. Sou o avesso do ordinário, de dias arrastados em flocos vazios. Posso dizer contudo que não há nada melhor que ouviro rastro raro de tuas palavras, ao canto do ouvido. São poucas as tuas palavras, eu sei... Mas, mesmo que fosse um “olá” apenas, seria o suficiente para mim, pois, não há sensação melhor do que a de te sentir vivo. Sinto que o amanhecer se aproxima com os ventos da juventude perdida.

Os Quatro Fastasmas do Natal (Parte 4)

Fiz desta vida um jogo de lugares Onde meu destino era o amanhecer Voei longe para descobrir os azares De querer saber o que era o entender Busquei o abraço acolhedor de milhares E de todos que tomei, poucos pude ver Um sentido além dos precários pilares Para amenizar a carência deste vazio ser. Foi com a cor do movimento que me fiz viril E consegui cantar junto dos reis imaginados Num banquete farto de um mundo febril. Mas a beleza das minhas asas tornara-se vil E meus passos das musicas foram separados. Falece sozinho o sonhador de um sonho juvenil. Brigar com a alma é perder a essência Adorar as regras é assumir sua pequenez És solidão

Os Quatro Fastasmas do Natal (Parte 3)

Sábios devaneios, naquela noite não contida Onde a música enaltecia os sonhos do sentido fazendo a alma agitar-se no ritmo da batida e o corpo desnudar-se ao estar entorpecido Mirei os olhos da fada verde, enquanto ermida No bojo de palavras tortas e doces, havia sido. Pulei nos céus dos teus beijos fartos de vida Caindo no sabor fácil da boemia acometida. Daquela festa, os prazeres se enfileiravam Ao gosto e gesto dos fregueses exigentes Mas até as noites para os dias se quedavam. E assim os doces sabores se transformavam Em lembranças nostálgicas e prepotentes De despedidas que nunca se acabavam. Não se enxerga sem antes conhecer a escuridão Não se extasia sem pular no ritmo dos sentidos. És diversão

Os Quatro Fastasmas do Natal (Parte 2)

Sou terço de ti, que um dia sentirás saudade Pois nosso tempo sonda a tristeza do adeus Guiam-nos nas certezas incertas da maturidade De um filho quem sabe, ou na busca por Deus. Quero que desfrute da minha insana integridade Entre estes lapsos e motins desses versos meus Pois cogito ser o néctar desta nossa doce idade A amarga constatação de fantasiosos apogeus E como sobra a intenção em chama bendita Criará o cristal, das tuas boas lembranças E fará a jazida de uma memória bonita Sem questionar a pungente agonia finita Que finca teu coração de vis esperanças Terá em ti o nós na tua bela escrita Não há conhecimento sem profundidade Não há integridade sem paradigmas. És amizade.

Os Quatro Fastasmas do Natal (Parte 1)

Se de mim, o gosto entre teus lábios sentira Sabes que não há semelhante suave sabor E meu encanto não somente toca tua lira Mas desnuda a pele macia do teu furor. Tu apreendes os gestos e às nuvens se atira Voa encantado por rumos de ti, sem temor. Vive o segundo interminável desta mentira Até perceber-se como um grande desafiador. Desconhece a fragilidade das tuas asas Mas brinca de desbravar o desconhecido Perde o medo de achar entre as brasas Canta curiosidades e ignora as defasas E toca o corpo de Eros de modo atrevido Para encontrar respostas em tabulas rasas Não se perde, pois não tem onde queira chegar. Não se ganha, porque não tem o que perder. És liberdade.

Ingênuo

Brinquedo de sonhar e esquecer a realidade. Jogo de palavras cruzadas, tortas todas são... Mas do que é feito toda essa nossa verdade, Se não de um pouco de tudo da nossa ilusão? Somos brincalhões nessa tenra e torpe idade. Entre brincadeiras fúteis, que depois se vão. E jogados para o alto, entre o vulgar e a vaidade. Para procurar quem é, ou uma outra versão. A pele pode revelar o perfume e a sensualidade O toque torna-se o gesto do desejo e da intenção Desnuda os pudores de quem busca intensidade, De quem sonha com o mar de fulgor, de paixão. E se o pecado é um dos signos dessa cidade, Busco o silêncio de um brinquedo de condão Mas o charme do desconhecido traz fogosidade E eu brinco de ser todas as cores dessa volição.

Assim como eu

Percebe os pés das crianças, aos passos ligeiros caminhar. O tempo brinca em derramar as folhas secas e os mais velhos se vão para sempre. Os mais novos se vão e você assiste ao espetáculo da morte na poltrona privilegiada Você delicia-se com a engenhosidade das colocações: as ninfas apresentam as relativas horas a correr... são elas também ingênuas crianças que dançam descompromissadamente aos sons das despedidas. Elas são belas e cegas. Enquanto isso você percebe-se exatamente como é: um expectador da morte. Espera. Ensaia. Revolta-se contra o enredo... Mas, ao sétimo sinal, mesmo sem saber como, sobe ao palco e nunca mais saberá se estava ou não preparado para tal atitude. Você se despede daqueles que ama, sem dizer que os amam. Você não chora, pois é incapaz de se expressar. Você desmancha-se entre os vermes da terra. E volta exatamente para onde você saiu. Existência vil. Perguntaria se valeu a pena. O milagre da vida, de tão incompreensível e improvável torna-se brincadeira de cr