Perdido

Lá... bem longe, perto apenas das idéias nunca reveladas e dos cantos impronunciáveis eu passei aquela noite. Num ato que parecia ingênuo ser, no meio das montanhas de livros em branco, e assim por acaso você encontrei numa brincadeira nada infantil.

Pouco se passa, o encanto se instala, a voz se apresenta e as ilusões dançam sem as preocupações de um adulto em formação (de algo). Mas, como todo canto, o dote era mais inebriante do que os longos e frios dias de agosto.

Sem pestanejar, a música silenciosa anunciava a chegada da grande valsa. Naquele salão, as velas davam o tom de solenidade e eu estava à tua espera. Meu sexo era teu e nem a pior das crises poderia atingir-me naquele instante.

A poucos passos de sentir o teu perfume, o balanço das chamas cantarola entre mil aromas diferentes, elas são graciosamente tocadas pelo vento do luar, e assim tornam-se fiéis expectadoras de um baile sobre mim mesmo.

Trajando apenas a sombra da noite, mas tocado pelo brilho das luzes dançantes das velas, caminhava em sua direção, pois sabia que o sonho era etéreo e a conclusão absoluta inevitavelmente seria.

Por mais que tentasse me enganar, eu conhecia aqueles passos, e a luminosidade estremecida daquele ambiente já não era mais capaz de transportar-me para o baile, sem com isso perder de vista os meus sapatos.

No final, perceber que tamanha beleza tinha sido de apenas um único protagonista não mais me entristeceria. Entreguei-me ao desejo calado, mesmo consciente que estava a construir uma história de para mim mesmo.

A noite termina com os primeiros raios de sol a tocar timidamente o orvalho sob as folhas das árvores. Percebia paulatinamente cada detalhe do meu corpo e não mais me importava. Amei-te profundamente sem você sequer saber que fora amado.

Calei-me perante aquela algazarra de sentimentos e percebi que o que procurei era o prazer de sentir-me feliz por mim mesmo. Contemplei um sorriso inesperado que ganhou impulso para, por fim, morrer sem descobrir absolutamente nada.

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