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Mostrando postagens de fevereiro, 2010

O Diário de Teegoh – Semana 29

As noites de Paris estão mais agradáveis nessa época do ano, principalmente por Tobias não mais estar tão presente. Não me irrito facilmente, eu apenas estava um pouco indisposto com as loucuras daquele jovem. De todo modo devo procurá-lo, afinal, neste mundo, é melhor conviver com os loucos genuínos do que com os mascarados de Veneza. Além disso, não tenho ao certo qual seria o prazer da loucura daquele rapaz e não quero que minhas ancas sejam devoradas desprevenidamente. É curioso contudo como fantasmas gostam vir me visitar! Há duas noites sonhei que Pierre estava sentado debaixo de uma árvore de um parque qualquer. Deste sonho lembro-me perfeitamente do cheiro das rosas daquela imensa roseira. Mas, ao me aproximar, vi que tais rosas eram vermelhas pois suas raízes se alimentavam do sangue do rapaz, esturricado, em sono profundo... Será a morte sugadora de sangue, como um vampiro? Ao menos o fim parece ser menos melancólico se transformado em rosas tão vivas.

O contador de Histórias

Posso imaginar a loucura dos seus atos desenhando-se em frente à tua incapacidade de agir. É fácil fazer da minha imagem o personagem principal do seu romance de horrores. Eu posso ser o teu vilão, mas isso não passa do reflexo da tua insanidade. Sou aquele que você nunca tocará, pois o meu cheiro, perto do teu apodrece entre tantas mentiras e tantas histórias. Porém, você não é um contador de histórias... é apenas um ser apaixonado, solitário e absurdamente carente. Fico neste pedestal que você construiu pra mim, enquanto percebo você se afogar dentro de você mesmo. O jogo vira. Ganha outra cara. Você não consegue controlar e isso te desespera. Não sou uma pessoa má. Nem sou eu que conto a ti essas palavras. Sou a sua consciência que adormeceu nesta noite. Enquanto você brinca de cavar minha cova. Enterrar-me ainda é fácil, afinal, não estou muito acima do peso. Mas você viverá bem enquanto eu por lá estiver. Isso é o que importa. Portanto, divirta-se!

O Diário de Teegoh – Semana 28

Uma semana conturbada, posso dizer. Perturbador, em última instância, tem sido perceber a serenidade dando seu posto para a loucura e autodestruição. Temo, mas não muito, que essa crise reverbere gotículas em mim. Tobias é um rapaz que poderia aproveitar mais do vinho e menos da loucura pessoal. Ainda mais estando em Paris. De todo modo, não saberia descrever como eu o vejo ou o que posso esperar dele. Essa semana eu li algo sobre a Lilith de Lucius Apuleius . Curioso esse livro vir a mim neste momento. É uma pena, contudo, eu não acreditar em destino, nem em bruxas. De outro modo, poderia deliciar-me com um suspense fantasioso. Mesmo assim, essa foi uma semana atípica, no modo como perdi-me entre os devaneios de Tobias. Isso acabara neste instante. Pois temo ser o absinto dele diferente do meu.

O gosto da descoberta

Era simples. Um coagulo de sangue estancado há anos. Com vida, porém quente: porém adormecido. Apenas esperando. Esperando... Até que o dia nasce. Ele acende aquilo que lhe faltava, como um milagre. Ele conhece o sabor da terra, o tenro gosto do ar a tocar os lábios. Já não era ele apenas uma gota... O céu deu a chuva, que fez as corredeiras de fertilidade e amor, e assim se formou o barro. O homem pouco a pouco se desenhou contando com a gentileza do toque. Esculpiram-se os arredores do desejo em torno de um torço firme. O corpo era imaculado e portava todas as virtudes. Nenhum vício. O sol trouxe a beleza das cores e os cachos dos seus cabelos tornaram-se brilhosos. Enquanto, como uma floresta, o corpo em pelo, explorava suas inconstâncias. Mas o despertar do dia trouxe também o outro, que não era tão belo, nem tão sábio, tampouco puro. Era o dia em que a virtude se banharia no sabor do vinho de baco. E seja ele Adão, David, Sebastião ou Jesus... Sua pele enrijecia em virilidade e su

O Diário de Teegoh – Semana 27

A obsessão de alguns pela dor impalpável é algo lastimável. Enquanto deito-me na bonança dos dias, entre o fastio e os vícios, Tobias especula cada segundo na tentativa de escapar-se dos fantasmas do arrependimento que ele mesmo criou. Acostumei gastar algumas horas do meu dia com ele, contudo. Mas, algo me inquieta ao olhar dentro daquelas esmeraldas em forma de olhos. A sanidade esta mediando um equilíbrio delicado dentro naquele rapaz. Queria sentir pena. Mas, de todas as marcas e buracos escavados em corpos que já vi, nada é mais espantoso e evasivo que aqueles olhos verdes. Mesmo assim, não sinto repulsa. Os dias correm rápidos por aqui desde que Tobias chegou.

Minha mestra

Não acredite no equilíbrio. Simplesmente porque ele não existe! Pode ser que haja um conflito de tensões divergentes que se findam na sensação de equidade, contudo, como já dito, isso seria apenas uma sensação. Mesmo em um jogo, onde você tem o mesmo número de peças ou cartas que seu adversário e que as regras sejam aplicadas da mesma forma para todos os lado, ou seja, um terreno limpo de qualquer vantagem: isso é Ilusão! Haverá sempre aquele que tem mais experiência que você, ou menos pretensão. Há quem sonhe e é petulantemente abusado! Há quem reze ou quem chore. Há quem seja o contrário ou tudo isso e tantas outras contradições. Pois, em um jogo, não há ponto zero. Não se descarta as memórias ou as promessas não cumpridas. Enquanto hoje, você se sente o dono do mundo, amanhã eu sou o coringa que te joga pelo avesso. Psicologicamente. Mas, coabitar com a finitude não é de todo ruim. Pode impulsionar. Pode ser brinquedo e pode-se manipular ao seu gosto. Às vezes funciona. Às vezes não

O Diário de Teegoh – Semana 26

Nunca pensei que o mundo fosse um lugar grande. Mas, eu ainda achava que haveriam lugares anônimos o suficiente para só cruzarmos com olhos nunca vistos antes. Porém, momentos como este que contarei fazem com que eu me perceba tão insolente e ingênuo. Naquela tarde banal, enquanto tomava um café banal, em um lugar banal, eu escrevia neste caderno. Eis que avisto um rapaz dirigindo-se à minha direção. Entendi as nuanças de Manet neste instante. Mas, a imagem a se formar não conferia com as paisagens bucólicas do pintor. Estou em Paris. O que deveria eu esperar? Nunca mais ver os rostos ou os fantasmas de além-mar? Paris é a casa de formação para os burgueses de lá! Quando não, é a casa de campo, o jardim de inverno ou qualquer outra banalidade! Quantas banalidades! Há muito tempo não sentia o meu coração acelerar. Lá estava ele... tão real! Não soube por um raro momento se levantava e corria naquela direção ou para uma oposta. Permaneci sentado. Plácido. Ele sentou-se na cadeira à minha

Um dia...

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O Diário de Teegoh – Semana 25

Termino essa semana sem quaisquer novas. Essa terra, de tão atrativa, torna-se enfadonha e previsível. Até as cores do céu são previsíveis... Invejo os poetas, por serem capazes de fantasiar de modo tão convincente. Pior! São capazes de criar! São deuses proscritos! Divirto-me mais com essas folhas e letras em preto do que com as ideologias da mocidade. Será que sou um velho em corpo maculado? Sinto-me que devo parar de escrever, pois algo insano em minhas palavras começa a ganhar contorno. É estranho perceber que percebo os mecanismos de modo diferente. E, por saber que é diferente, torno-me diferente também no modo de agir e guiar as convenções sociais. Cada dia que passa, sinto-me como que os meses passados foram apenas sonhos bizarros de realidade. Por aqui, nem notícias nos jornais sobre o lado de lá se lê. Um mundo a parte... terrinha de [este texto parece ter sido interrompido bruscamente. Adiantamos que os motivos para tal afirmação poderão ser facilmente percebidos com a leitu

Ao Espelho

Você vê o que causa a dor da não consumação. Você sabe que tua aflição, com o passar dos meses e anos, transforma-se num tênue desconforto. Quase imperceptível. O corpo sabe se proteger das dores. Ele cria armadilhas para si mesmo. Ele se afasta dos espelhos para não enxergar a ferida exposta. As feridas são ungidas em perfumes ralos, para escapar dos odores da insatisfação. Mas, se uma foto, uma palavra, um gesto ou um mísero pensamento que seja, tocar o teu dia por um segundo, perceberá então que mesmo nada sendo como um dia fora, mantém ainda em ti o desejo por um gesto de carinho. Então, desfalece um momento. Contêm as lágrimas. Veste qualquer coisa e se vai.

O Diário de Teegoh – Semana 24

Ao chegar à Paris deixei para os quinhões do além mar a idéia de liberdade. Tampouco reconheço o significado do amor, como algo palpável. Igualdade... é tão irreal que recuso-me ousar firmar algo, mesmo que seja o contrário do real. Paradoxalmente minha cama fica na terra-mãe dessas palavras... Palavras, que, por sua vez, são cantos na boemia dos bordeis infestados de gente e de sexo. Posso dizer, contudo, que hoje conheço algumas pessoas que atravessaram a barreira da mediocridade, mesmo sendo eles quase zumbis de histórias encantadas: histórias de amor. Mas nada mais agradável como companhia para beber os dias e as noites do que pessoas e suas histórias... Demonstro que cada vontade vale menos que as taças de vinhos que tomamos, e brindamos. Eles me chamam de “amer” nas noites de boemia... Nada mais coerente, contudo! Até que gostei, por um segundo... afinal para alguns quando percebem que não existe “aimer” só lhes restam o “amer”... No fundo, sou o espelho da ilusão de cada um, sin

26

A sensação, ao fechar a porta, era quase delinqüente. O furor da rua se calava instantaneamente e os cachorros não latiam mais. Deleitei-me nos segundos seguintes ao tirar meu calçado calmamente. Senti o cheiro da minha casa, mesmo confundindo-o com o cheiro da terra molhada do lado de fora. Cheguei um dia a pensar que minha história demoraria apenas 16 anos. Hoje, a casa dos 20 ultrapassa a alvorada do meio e dedilha em mim mesmo a sensação da jovialidade quase esquecida. Posso dizer que sou os cacos de tantas histórias, sendo que hoje administro um quinhão delas, sempre me perdendo, mesclando-me à coisas insanas e alheias à mim. Mas, a delicia ao abrigar-me no silêncio desses segundos só não é maior que a sensação de aconchego espalhado sobre minha cama. Essa mensagem talvez não faça sentido... de fato, não é para ter sentido, pois, por um momento esqueço-me dos amores impossíveis, das mazelas do mundo e da incoerência... Apenas deleito-me em um ato explicitamente egoísta no gesto do