O menino que sabia das coisas (parte 3)
Ele não se conformou ao ler as noticias no jornal do dia seguinte. Compararam o ato do vôo das palavras com a censura e a queima dos livros nos períodos de ditadura no mundo. O garoto concluiu que ninguém deve ter lido as palavras recortadas, foi quando uma tristeza imensa tomou conta de seu coração.
Mas, como toda tristeza há sempre uma grande esperança, o garoto entendeu o seu erro e logo buscou formas para continuar mandando alegria para as pessoas. Nesta busca, não foram necessárias mais do que uma noite não dormida para que o garoto encontrasse a solução. Como em uma conta de comparar as diferenças, ele repassou mentalmente o primeiro e segundo ato em busca da alegria. Ele era inteligente. Ele era solitário.
No entardecer do dia seguinte. Um pedaço de madeira afixado no telhado de um dos prédios estava móvel e o ajudou a montar uma estreita ponte entre os dois prédios. Ele sabia o que fazer, e assim o fez. Com a mesma faca que apunhalou o travesseiro, ele viu que o grande propulsor da felicidade era o seu sangue e, portanto, feriu delicadamente seus braços. A precisão dos golpes fora indolor tamanha a felicidade do garoto. Ao ver fios rubros vazarem de seu corpo, ele apressou-se para o centro da ponte recém construída.
Lá, com os braços abertos, sentiu o vento gélido em seu rosto, ouviu os pedidos do mundo e sentiu o cheiro de um jardim recém podado. Seu sangue dançava no entardecer. Silenciosamente lá ele ficou até não sentir mais seu corpo. Ele não sabia o que era mais o tempo. Não sabia o que era solidão. Ele apenas vivia. Até a última gota de sangue.
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