Apenas pular

Há momentos em que nos sentimos suspensos no ar. Como se tivéssemos sido arremessados para o alto e, naquele exato instante, onde inerte estaríamos esperando que começasse a aceleração da queda, enxergássemos o mundo sutilmente diferente.

O horizonte é infinitamente maior do que aquele visto lá de baixo. Há um silêncio profundo, cortado apenas pela sensação do vento frio a acariciar o rosto... O sol daqui de cima brilha mais forte e somente eu, nesse privilegiado micro segundo, ainda posso contemplá-lo.

Enquanto os demais, aqueles que estão lá em baixo, olham perplexos para cima, na expectativa de saber o que acontecer-me-á ao alcançar o chão novamente. Eles não percebem o quanto perdem ao analisar o mundo apenas com os pés no chão... Daqui de cima, tudo é mais calmo, mais sereno... nem mesmo as montanhas se delineiam como grandes obstáculos, apesar delas serem o que exatamente são, assim como eu, assim como tudo.

Jogo meu corpo para trás, num movimento abrupto, antes eu tinha medo de altura, agora não sinto mais nada... apenas o silêncio que não sei mais se é fruto do meio ou se é a consciência de ser quem sou.

Se o momento é de êxtase, o próximo passo é germiná-lo com a seiva da esperança. Dou-me o direito de voar e, se aquele momento era comum para todos, torna-se único para aquele que soube bem lidar com as temperanças do mundo e com a certeza da incoerência. Não diria aqui que voei, pois eu posso ser um incredu-lo amanha, mas, acredite se tiver capacidade: naquele instante não existia mais algo que um dia chamei de limite.

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