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O Arquiteto do impossível ou a explicação do silêncio

Porque criamos personagens? É certo que em cada “ambiente” nos vestimos conforme o protocolo. Muitas vezes, porém é necessário escolher qual papel interpretar e, acima de tudo, ser gentil e polido com todos. Assim sendo você ganha o ilusório tom de respeito e afeição dos pares. É um bocado difícil admitir, mas o meu orgulho neste instante está abalado e, portanto, sou capaz de escrever sem remorso: tenho inveja de praticamente tudo! Talvez o meu maior esforço em fazer bem feito o que faço não consiste em cumprir um papel social, mas sobretudo chamar a atenção de algumas pessoas que são escolhidas por mim. O curioso é que o prazer em lutar vem acompanhado sempre pelo sabor amargo da derrota. Pois, no fechar das cortinas, independentemente do quão bem sucedido tenha sido o espetáculo, a sensação de falsidade sobressai como uma crítica arrasadora. São missões impossíveis por conta da simples incompatibilidade. É como querer desenhar sem ter nenhum tipo de material. Mas, na minha mente é p

Sobre um galdério pensante

Ao amor que se distrai nas horas que menos devia, entrego a minha alma! Os anos observam cálidos, entre ombreiras e chapéus, os erros cotidianos.Porém não me julga nem ao menos uma só palavra: Apenas observam! A inquietação, afinal, não é nada além de momentos passageiros: Sempre desassociados de qualquer virtude ou contentamento. Mas, como num banquete de sinceridade, tais momentos atenuam o sabor da solidão de ser só um. Torna-se, assim, um espelho cru: mostrando-me abusadamente nu, por fora, dentro e invertido! Ao amor que se distrai nas horas que menos devia entrego a minha alma! Pois não há nem se quer um varão que não a possuíra por uma noite! Contudo, deixaram-me apenas um nó em tecidos e poucas moedas. Torno-me, assim, o ser destituído de mundo: um ser volante que não mais parece se importar se está entre braços tênues, como num insólito aconchego, ou jogado em pensamentos. Afinal, se ontem fui desejado, hoje sou escória... Se ontem fui verdade, hoje sou anarquia. Ao

O corredor das estações

Fosse o mundo meu, e um pouco de alegria depositaria em cada alma solitária E então, os adormecidos sonhos de outrora despertar-se-iam ao amanhecer Acompanhando a alvorada dos homens A festa do jubileu, a preparar estaríamos, na primavera da era imortal Cujo amor, plantado no inferno da mais profunda melancolia, floresce E os vasos varonis preparam-se para o coito Sim! É a aurora sob os sons das trombetas a anunciar o sabor do verão Clama na astucia jovial o gesto dos beijos livres a dançar entre os lábios Já não é sem tempo, e a vida, enfim, é plena! Mas o silencioso tom alaranjado tinge os contornos dos nus ao céu Como um traquinas a desafiar a jovialidade efêmera, cai-nos o outono. E, sem mais delonga, rouba-nos a precisão dos atos. Fosse o mundo meu, e um pouco de alegria depositaria em cada alma solitária Pois reconhecer as estações da vida não nos torna responsáveis pela finitude Tampouco somos donos do desejo de jovem ser... Para sempre.

O fio da memória e os cabelos teus

O mais sádico dos prazeres configura-se naquilo que percorre os meus pensamentos. De tudo, ou cada parte – se-pa-ra-da-mente – sou o que restou da incompletude dos sonhos de outrora e, devo admitir, é uma tarefa homérica deixar o castelo de cristal pois não consigo olhar para trás e deixar de lembrar os louros cabelos do meu primeiro amor a cambalear maliciosamente na ingenuidade da puberdade. Amor sete vezes amor. Sete anos construindo tijolo por tijolo desde castelo, para então cá repousar num sono profundo o precioso e imaculado vaso de mim mesmo. Deste modo, preservei-me intocado dos prazeres e dos gestos mortais, protegido pelas chaves da esperança de um final feliz. Com o tempo, os fulgores dos fios de seda que compunham os motivos da minha missão tornaram-se rotineiros marrons. Mas, mesmo assim, percebi que a beleza que eu via antes, estava a minha espera nos caminhos do prazer. Eu estava preparado para receber o sabor do delírio contigo. Você não, contudo. Hoje a confluência de

O Diário de Teegoh – Semana 36

A dança desta noite foi cerceada pelas conversas triviais. As pessoas, nessa época do ano, têm o curioso costume de lamentar o verão passado. Não consigo imaginar ninguém daquele circulo a cavalgar, nem por um instante. Dolores Fleur, entre suas ancas que mais parecem montanhas de chantilly sequer conseguiria guiar um potro. Coitada. Porém, todos devaneiam sobre as maravilhas das férias e o contingente embutido desta época. De todo modo, a irmã de Fleur, a bruxa da semana passada, não para de me indagar certa curiosidade. Talvez por conta do pão de mel em formato de casa, talvez pelo olhar incisivo... Contudo, confio meu palpite na simples constatação que as pessoas daqui não são interessantes e ela pôde ter me surpreendido, justamente em um agudo momento de abstinência intelectual. Devo esperar mais um pouco nessa festa. Sorte é poder contar com meu caderno, mas veja, tal senhor insolente está olhando para mim enquanto fala qualquer coisa inútil para o outro, de vestimenta engraçada!

As razões do inexplicável

De todas as contradições e absurdos há uma, em especial, que me faz escapar as correlações do certo moral e do libertino sabor do prazer. A insustentável leveza do ser torna-se um paradigma subjetivo que perpassa pelos absurdos de um exemplo, contudo, diluído no cotidiano dos compromissos, não fica longe de nós a evidência que o caos do vazio pode proporcionar a dor de não ser. Liberdade tão bem cantada nas melodias novicentistas que ainda ecoam em nossa mente como um propósito possível... Embriaga, porém, a capacidade lógica de um direcionamento mental com as torpes volúpias chamadas de amor, paixão e desejo. Liberdade, a tal, que busca prender-se nas fivelas de uma história qualquer. História inventada entre capítulos retos. Onde, quando o desejo é ascendido por um instante, e concedido, resulta em um laço (ou algema) entre nossas vidas e a do outro. É um ciclo vicioso ou virtuoso? Erramos ou aprendemos? Não há como ser duas coisas! Mas somos! Somos a leveza de uma alma imortal encar

Carta de amizade

Se com o gesto pode mudar o mundo, imagine o que faz o tal amor ao invadir um desprevenido mortal? Mas não se assuste. A dor é tão fiel ao sentimento que nem a certeza da impossibilidade faz com que a ilusão se desvaneça. Jeito estranho de ser, este que nos traz a vida como um gargalo de contradições. A frágil ilusão briga com a plenitude dos fatos e ainda sai vitoriosa, “mesmo que com a dor de mil facas a cada passo”. É vivido e plácido. É viril e indistinto. É a certeza do não, mas com o gosto de sim. São sorrisos criados no rosto dele através do teu pensamento. Esses sorrisos não são pra ti, e você sabe disso. Ele sabe onde fica tua casa, mas não sabe onde você mora, onde vive teus distintos ases. No fundo, meu caro, é evidente que não há nenhum espelho de palavras capazes de refletir o ego dos teus castelos. Você tem consciência da gentil e cálida alma que tem, mas conhece bem as taças que ele usa para degustar os mesmos vinhos teus, as mesmas taras, os mesmos desejos. Indistintos

sobre envelhecer

Quero beber um copo deste teu lubridioso licor. Assim eu entenderei um pouco dos cortados sinais, Que sondam as cortinas dos meus sentimentos mas que sucumbem entre tuas criadas neblinas. Os teus dentes de lata sorriem para mim. Os tortos gestos de um corpo maculado Transam com as tentações do velho senhor Para a amargura buscar conforto em mim São tantas horas rodadas ao terno gesto do acaso Que me pergunto o quanto disso tudo é invenção Pois não há de ser certo querer sentir o gosto E apenas o vazio preencher os meus espaços Até não chegar uma resposta fabricada abro os livros que nunca foram escritos e cozinho os sonhos alheios, egoista-mente nesta masturbação da solidão sem fim.

O conto da xícara

Este texto é dedicado ao anônimo, cujas palavras me instigaram a escrever em pleno furacão. Um dia desses, me deparei com a triste vida das xícaras. Entristeci ao perceber todos os humores pelos quais as submetem. Afinal, não há mais triste insolência que despejar as mágoas frias, em beijos frios de cálidos lábios, em uma noite chuvosa. Elas, que carregam cuidadosamente o afago da solidão, são submetidas as mais duras penas que um homem foi capaz de inventar. E, como se não bastasse, o que resta é o consolo do pires que mal cabe em sua própria melancolia ao espalhar-se entre migalhas velhas do Sr. pão-de-mel. Invejosos são os talheres, cuja soberba em serem tão maleáveis os fazem bajuladores profissionais de quase todas as horas. Eles, em todos os tons prateados, debruçam-se nas rapsódias dos gostos e gestos. Mal dão conta de suas vidas, tampouco percebem o que os cercam. Ninguém seria capaz de ouvir o cálido suspiro da xícara, que em plena reflexão sobre a natureza da nostalgia, relem

O Diário de Teegoh – Semana 35

O certo se desfaz nas entrelinhas das monótonas festas parisienses. Enquanto os festejos formam-se por tolos e para tolos que se arraigam as danças. E Casais se formam. E Casais se casam. E a dança continua. Incessantemente. A semana se estendeu com as pessoas visitando-nos na casa de campo que eu não imaginava à nossa família pertencer. Estou ainda nos arredores de Paris, mas o habitual cheiro da merda dos porcos me entendia, pois é igual em qualquer lugar. Contudo, não é todo dia que recebemos a visita de uma bruxa. Mas que minhas letras soam miúdas, pois a inquisição passou, mas a iminência da guerra ainda prospera por todo canto. Ela falou-nos sobre a culpa. Em tom firme e delicado ao mesmo tempo. Toda frase muito bem marcada ao sobrecarregar suas vogais abusadamente germânicas. Curioso apontar que foi a primeira vez que uma pecadora professou em apropriado tom o sabor de ser livre. Foi assim que a minha atenção ela ganhou. Precisamente ela, que pesa o olhar com o azul do inverno

O teatro do desapego

Parte 1. Fenecer Meu caro, esta voz que te condena poderia ser os agouros que as bridas do inseguro trouxeram, acomodadas e contidas, na noite que não encena Eu não devo cair na indiferença quando as pétalas das tuas feridas tornam-se amalgamas transvestidas de palavras borradas em descrença por isso, sobre um porém lhe falo posto que a vida não é um vaso vil de desmedidas idéias do vazio e cujo silêncio tenta romper o elo da inconstância que presencio e então, não ser mais este luzidio Parte 2. Asilar-se Porém se o canto soar infinito, e partirem os proscritos prazeres quando os dos teus anjos apeares: meu pedido cingir, é o que cogito Mas não espere um castelo já visto pois, por aqui, não há super-poderes nem perfeição, nem bons talheres: vivo entre o que sonho e o que sinto Não é formado de promessas vagas tampouco de eternidades pacificas os meus tortos versos, digo, suplicas . São montes das minhas letras gastas que teimam em criar umas rubricas e embrenhar tuas partes oníricas P