O Arquiteto do impossível ou a explicação do silêncio

Porque criamos personagens? É certo que em cada “ambiente” nos vestimos conforme o protocolo. Muitas vezes, porém é necessário escolher qual papel interpretar e, acima de tudo, ser gentil e polido com todos. Assim sendo você ganha o ilusório tom de respeito e afeição dos pares.
É um bocado difícil admitir, mas o meu orgulho neste instante está abalado e, portanto, sou capaz de escrever sem remorso: tenho inveja de praticamente tudo! Talvez o meu maior esforço em fazer bem feito o que faço não consiste em cumprir um papel social, mas sobretudo chamar a atenção de algumas pessoas que são escolhidas por mim.
O curioso é que o prazer em lutar vem acompanhado sempre pelo sabor amargo da derrota. Pois, no fechar das cortinas, independentemente do quão bem sucedido tenha sido o espetáculo, a sensação de falsidade sobressai como uma crítica arrasadora.
São missões impossíveis por conta da simples incompatibilidade. É como querer desenhar sem ter nenhum tipo de material. Mas, na minha mente é possível! Eu pretensiosamente manipulo os elementos até ser capaz de chegar ao ponto onde percebo que o fiz nada significa. Quebro minhas esperanças ao ver que os acasos dos momentos são favoráveis aos outros, enquanto o arquiteto de sonhos fica com a dedilhar cada centímetro dos seus projetos na intenção de descobrir onde foi que errou.
E assim, a sensação que prevalece é a angustia da incompletude. Já amei tanta gente em silêncio que hoje perco horas a amansar a dor de lutas não vencidas. Talvez o meu erro consista em encarar o mundo como um grande desafio e eu sendo o trapaceiro, busco os caminhos convenientes e rápidos.
Afinal, quem sou eu? São tantos “eu” que me perco. O jogo inteligente e virtuoso que compõe os meus dias são nada além que máscaras de um primata que busca inconstantemente saciar o desejo pelo imprevisto. Mas sazonalmente me fecho para tentar recuperar as forças.
Nestes instantes, perco amigos, ideais, virtudes e dignidade. Perco o certo o errado e os parâmetros de qualquer um. Perco sonhos e o amor sincero. Perco a vida não vivida, sobretudo!
E o que me resta? Um tempo vazio para ser ocupado com uma nova busca impossível! A diferença é que depois de eu percorrer o caminho de tijolos dourado não me deparo com o castelo do feiticeiro. Apenas volto para o ponto de origem onde guardado está um menino que na adolescência encobriu um amor em forma de amizade por 7x7 anos.
Seria hoje o meu dinamismo um reflexo cíclico da formação de mim? Seria eu o salvador, companheiro, ombro e intelectual destituído de humanidade incumbido de figurar uma vida? Os personagens das ficções são tão fascinantes pois suas complexidades são sempre limitadas às páginas escritas. Transformo-me em um aos poucos. Como um ser que dispensa a vida para viver eternamente na história.
Pretensiosamente, não se pede os holofotes mas sim um momento de plena vida.

Comentários

andré maia disse…
Um dia, de súbito, acabamos por concluir que tão pouco nos resta um tempo vazio. Talvez as memórias, no silêncio dos nossos sonhos, nos falem dos segredos passados, das ilusões por concretizar, das utopias construídas em redor dos espelhos.

Que fazer, então, quando já nem o vazio tivermos ao nosso alcance?

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