O conto da xícara

Este texto é dedicado ao anônimo,
cujas palavras me instigaram a escrever em pleno furacão.

Um dia desses, me deparei com a triste vida das xícaras. Entristeci ao perceber todos os humores pelos quais as submetem. Afinal, não há mais triste insolência que despejar as mágoas frias, em beijos frios de cálidos lábios, em uma noite chuvosa.

Elas, que carregam cuidadosamente o afago da solidão, são submetidas as mais duras penas que um homem foi capaz de inventar. E, como se não bastasse, o que resta é o consolo do pires que mal cabe em sua própria melancolia ao espalhar-se entre migalhas velhas do Sr. pão-de-mel.

Invejosos são os talheres, cuja soberba em serem tão maleáveis os fazem bajuladores profissionais de quase todas as horas. Eles, em todos os tons prateados, debruçam-se nas rapsódias dos gostos e gestos. Mal dão conta de suas vidas, tampouco percebem o que os cercam.

Ninguém seria capaz de ouvir o cálido suspiro da xícara, que em plena reflexão sobre a natureza da nostalgia, relembra quando era apenas um pedaço barro perdido da anarquia da escuridão. Ironicamente, encontra-se na escuridão outra vez, mas, em plena e questionável ordem das coisas.

Não lhe resta nada além de rezar para que nenhum beberrão a derrube. Afinal, ninguém choraria ao ver uma xícara espedaçada no chão. Mas, todos sentiriam a falta do seu infinito potencial por ser o jarro do prazer. Contudo, substituível ela é. E assim, será.

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