Sobre um galdério pensante
Ao amor que se distrai nas horas que menos devia, entrego a minha alma! Os anos observam cálidos, entre ombreiras e chapéus, os erros cotidianos.Porém não me julga nem ao menos uma só palavra: Apenas observam!
A inquietação, afinal, não é nada além de momentos passageiros: Sempre desassociados de qualquer virtude ou contentamento. Mas, como num banquete de sinceridade, tais momentos atenuam o sabor da solidão de ser só um. Torna-se, assim, um espelho cru: mostrando-me abusadamente nu, por fora, dentro e invertido!
Ao amor que se distrai nas horas que menos devia entrego a minha alma! Pois não há nem se quer um varão que não a possuíra por uma noite! Contudo, deixaram-me apenas um nó em tecidos e poucas moedas.
Torno-me, assim, o ser destituído de mundo: um ser volante que não mais parece se importar se está entre braços tênues, como num insólito aconchego, ou jogado em pensamentos. Afinal, se ontem fui desejado, hoje sou escória... Se ontem fui verdade, hoje sou anarquia.
Ao amor que se distrai nas horas que menos devia entrego a minha alma! As tardes doces, inventadas entre os muros de um castelo, desfalece ao mesmo tempo as chagas em sangue e dor anunciam o fim de mim.
E assim morre a triste consciência que um dia julgou-se ser santa. E entre as manchas do que resta de um lençol nasce soberba, a fênix: a figura de um inebriado amor transfigurado em compaixão de mim mesmo. E, para suprir a insaciável necessidade de afirmação intelectual dispo-me de todas as coragens para entregar-me a sorte do mundo.
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