A história de Andruz

Parte 3: A despedida.

Ao tocar aquele rosto senti toda a beleza do mundo. Um sorriso complacente, deixou-me entorpecido e livre. Sua pele... cada centímetro de seu corpo, era o que poderia existir de mais delicado e vívido... Mas com o passar dos segundos percebi a dor do tempo a correr e se alastrar em sua feição, mesmo que de nada ele demostrava sentir à não ser pelo seu corpo se cristalizar. Foi quando, ele se levantou, deixando minha mão se perder no ar, quando antes estava a acariciá-lo, para voltar para as águas escuras.


Ficou claro: eu o amava e iria perdê-lo. Sentia-me completo mas, ao mesmo tempo apreensivo... Definitivamente, não queria que ele partisse. Ele emergiu das águas antes mesmo de eu tomar consciência das minhas lágrimas. Voltamos a nos sentar no mesmo canto do salão, onde estávamos a pouco e, de algum modo eu sabia: seria ali, a nossa despedida.

Sem ter como lutar contra a morte, aqueles segundos se findaram em meu pensamento como eternos. Mergulhei profundamente na intensidade daquele olhar plácido, libertando-me do medo e do julgamento alheio. Naquele instante eu era a concretização dos meus mais íntimos sonhos. Conheci a beleza e a felicidade de ser eu mesmo, ao mesmo tempo que descobri a dor da saudade que iria sentir.

Ele se levantou e se foi para sempre. Não mais chorei apesar da pungente dor que senti em meu peito. E naquela festa, onde o anfitrião anunciava sua morte, ele não foi percebido por aqueles que ali se encontravam, perdidos em suas dúvidas e músicas sem sentido.

Eu me reconheci em mim e, ao mesmo tempo, deixe-me para traz pois o amor que havia vivido não mais viveria... não mais existia... Agora só existia eu, meio dilacerado por perdê-lo, mas estranhamente mais forte, mais consciente de mim mesmo.

Sem nenhuma lágrima eu parti daquele lugar... sabia que nunca mais voltaria lá, mesmo porque o que eu precisava de lá já vivia em mim... A noite continuava a espreitar-se no breu e na fina neblina... as cores e as luzes eram as mesmas de antes, mas nunca mais serão as mesmas para mim.

Talvez eu nunca mais encontre um amor... Talvez ele nunca existiu como algo transmaterializado... Andruz foi o amor e se foi, mas não antes de mostrar ao incrédulo a possibilidade de algo impossível. Impossível em sua completa afeição, mas possível em sua essência.

No breu daquela noite você viu eu me fundir com a neblina e nunca mais se soube noticias minha, pois nunca mais eu fui aquele que conheceu, agora eu sou aquele que só vivia em mim mesmo.

Fim

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