O Diário de Teegoh - Semana 03
Talvez eu passe acreditar em milagres! Talvez não! Pode ser que isto tenha sido apenas algo excepcional! Mas, que seja... foi bom ver a criada contando para minha mãe o incidente. Percebi que a grande matriarca desta prole entendeu o espetáculo da tocha humana da semana passada. Apesar de ela ainda culpar pela careca da mulher (como ela deixou bem claro no jantar), ao menos ela parece ter desistido de me mandar para o hospício... pelo menos por enquanto.
Ainda bem que este mês encontra-se na reta final. Se bem que depois começarão outros tipos de reuniões que são tão chatas quanto às do mês de férias. Contudo, não posso negar que houve uma plácida alegria no último baile de janeiro. No começo, as mesmas pessoas, mesmas conversas observadas de longe... sapatos engraxados... pés pisando em pés durante as danças... até que, um senhor sentou-se ao meu lado.
Acho que nunca o tinha visto antes... mas, com toda aquela idade, com certeza não seria uma figura difícil de identificar como um ou outro patriarca de uma ou outra família dita importante. De todo modo, o lenço azul que carregava no bolso já o denunciaria como sendo um estrangeiro em terras de mâmutes.
Tivemos uma conversa boa... sem aquela pretensão de sustentar os egos inflados de vento fedido... Foi como se não estivéssemos no salão, ninguém nos notava naquele canto. Enquanto os bons brindavam à saúde da crina do cavalo e a sabedoria da porta eu não era o alvo de inquisidores. Durante a festa, quando alguém, um pouco mais exaltado, excedia um pouco no volume da voz, minha mãe, como num estalar de dedos, tornava o sorriso de seu rosto em feições de atenção, ao procurar a possível voz anunciadora do fim dos tempos. Ao perceber que eu não era o espetáculo, imediatamente voltava para sua perdição.
A noite acabou. Senti um contentamento grande em minha mãe. Aquele sorriso que ela me deu foi o suficiente para demonstrar o seu alivio e sua embriagues. Por fim, sem grandes esperanças, acabei por perguntar a ela se sabia quem era o senhor do lenço azul. Como havia imaginado, ela não sabia quem era o senhor que eu descrevera. Tampouco, tinha notado a presença dele... Ela não havia notado nem por um instante onde eu estava ou com quem eu estava.
Enfim, ainda não sei quem ele é e isso é muito intrigante para mim!
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