A história de Andruz
Parte 1: Uma estranha festa de despedida.
Um dia, sem onde ir e sem ter o que fazer, um sonho se assolou por aqui.
Era apenas eu e ela a vagar entre a fina neblina de uma noite de verão perto do mar. Naquela bucólica cidade, onde o calor era ameno e as cores das luzes e dos anúncios lembravam um vermelho entardecer, que mesclando-se com o verde oliva das paredes e outras tantas cores mais compunham nosso caminhar com uma melancólica e fatídica sensacção de tédio.
Estávamos matando o tempo, antes que ele nos matasse... com muitas vontades etéreas, mas pouco animo, ou pouca motivação... foi então que encontramos um cartaz diferente. Lá líamos o anuncio de uma festa, mas uma festa nada comum. Em letras bonitas, dentro de uma moldura e uma bela figura que ilustrava o chamativo cartaz, Anbruz convidava-nos para sua festa de despedida. Era anunciado também que ele se despedia não por causa de uma viagem, ou por que iria se mudar de cidade, ele nos convidou, pois sabia: naquela noite ele morreria.
Se por um lado tudo aquilo parecia uma grande sádica bizarrice, a curiosidade de dois jovens colocou-os a se questionarem se deviam ir ou não. Foram talvez em busca de uma prova para os incrédulos, ou talvez buscar apenas um pouco de descontração, ou, quem sabe ou pouco de cada, ou nada disso... uma pergunta sem uma resposta, como tantas outras... Por fim, eles decidiram que iriam para a tal festa.
Entre um cabaré e uma piscina olímpica poderia começar assim, minha descrição do lugar. Ele não era nem um nem outro de fato, mas algo entre as duas coisas. Havia também uma escadaria que separavam as duas parte do salão mas que, ao mesmo tempo as uniam. À meia luz, o tom vermelho predominava na parte superior e o efeito, ao refletir nas grossas cortinas de veludo vinho era bonito. Abajures verdes, com bordados dourados adornavam as mesinhas simpáticas... garçons vestidos como pingüins nos serviam, alguns mortais contemplavam a música eletrônica que vinha de lugar algum, enquanto outros mantinham-se sentados, em suas mesinhas, enquanto queimavam suas vidas e seus cigarros.
Se a festa era de despedida talvez aqueles que se encontravam lá não fosse próximos do tal Andruz. Não percebi nenhuma tristeza, nem se quer preocupação no rosto dos presentes. Estava tudo muito estranho, até para os mais estranhos!
Por outro lado, nos pés da escadaria, um tanque de águas movimentadas se instalava. Lá, a morte parecia ter já ter levado todas as cores. Não havia decoração. Era como se o salão terminasse onde as escadarias começavam. Lá, contudo, um velho homem se encontrava, trajando-se como um apresentador de circo, com suas roupas não mais brilhosas, parecia conversar discretamente sozinho.
Evidentemente aquela figura não me chamou à atenção. Mas havia ali algo que me inquietava. Contudo, se por um lado minha curiosidade é tenaz, os muros do meu castelo de cristal me ensinaram a timidez... hesitei ir até lá, e hesitaria até o último segundo.
Foi quando vi algo emergir daquelas águas, em um salto perfeito e, imediatamente voltar para as águas. Um vulto rosado, devia ser imensa aquela criatura, uns seis ou sete metros de comprimento. De encanto maior, nunca vi e acho que não há no mundo, em sua fronte brilhava algo que não pude ver para definir. Mas, se não bastasse a sensação estranha, porém maravilhosa, que senti, meu coração disparou com a adrenalina ao ver um homem saindo daquelas mesmas águas.
Apesar daquela criatura que contemplei ser indescritivelmente bela, ela meteria medo em qualquer um por conta do seu tamanho e agilidade. Como aquele homem foi parar lá? E, por Deus, que diabos ele estava fazendo? De todo modo, ele havia saído e, silenciosamente, olhava para o senhor apresentador de circo. Foram apenas alguns segundos talvez, mas para mim, uma eternidade seria pouco para descrever minhas sensações...de tudo o mais belo conheci naquele instante, e imediatamente aprendi que tamanha sapiência não era passível de conhecimento sem vivência, portanto, tudo o que conheci só me fez saber que tinha muito ainda a ser conhecido. E, neste instante, aquele homem mergulha novamente, trazendo-me de volta àquele mundo.
Não sei se foi o susto ou a surpresa de vê-lo mergulhar. Uma apreensão tomou o meu peito e eu, meio que como um reflexo, levantei-me da mesa e me coloquei a correr escadaria a baixo em direção onde se encontram o homem e o velho apresentador.
Comentários
Respondendo tua pergunta: "Andruz" surgiu da necessidade de eu nomear um ser inominável até então. No meu sonho (explicarei isso melhor logo após o final da história)ele não tinha um nome específico e, de um modo sem explicação, ele fixou-se em minha mente como "o crocodilo rosado"... mas, sua aparência não se aproxima nem um pouco à de um crocodilo, sem contar que "crocodilo rosado" carrega certa irreverência, sensação que não teria um bom lugar na história... por isso, ao decidi escrever, decidi também que devia buscar um nome para a criatura. Contudo, não sei lhe dizer uma possível referência ao nome. Talvez, o final ("druz") remeta-nos a luz (um modo de remeter a sua essência espiritual) , mas, no fundo, busquei por um nome não tão conhecido para tentar manter a especificidade da criatura.
Confira:
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www.andruzvianna.blogspot.com
http://cultivadordelagartas.blogspot.com/