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Mostrando postagens de abril, 2010

Quase

Onde eu posso reconhecer o teu sorriso, se ele não se forma para mim, Onde está aquele azul só nosso, nossos sonhos de irmos até a Grécia? Como devo pensar no meu dia e deixar o futuro ser apenas suposição, Como devo, melhor dizendo, ser o hoje se o amanhã ainda são brumas? Preciso aprender a domar os desejos ou sou alguma face da perdição, Preciso ensinar ao meu coração a não percorrer o caminho impossível? Seja como for, o dia é vivido, mas importa-me o como ele é tido Seja como for, nas curvas contraditórias e incertezas da vida... ..eu te amo...

O Diário de Teegoh – Semana 34

Devo admitir que ela não figura as apelações do inferno. Mais parece um pônei de circo, que entre sua educação primorosa e suas plumas e enfeites, ela deve ser um pouco acima de um espetáculo programado. Tão pacíficos são seus gestos que assustar-me-ia vê-la revoltada com algo. Ela nasceu para ser domada, seja pelo pai, pelos irmãos, e agora, pelo futuro marido. Confesso que isso não é de todo ruim. Para mim. Não reconheço a menina que um dia as sardas do rosto foram-me motivos suficientes para enterrar a alma dela entre minhas chacotas. Hoje, ela é tão refinada que talvez não haja mais lágrimas em seus olhos, ou então, todas elas já se foram. Derramadas. Por outro lado, não reconheço minha mãe, apesar de seu gosto peculiar por grandes vestidos continuar o mesmo. Ela, de algum modo, esta espremida entre os medos das incertezas políticas e as rugas em seu rosto. Por um segundo, apesar de discordar veemente das suas atitudes, eu a compreendo. Por fim, difícil não é saber o que é o certo,

O menino que sabia das coisas (Epílogo)

As notícias do dia seguinte não se associaram nem com as plumas nem com as palavras que voaram pelos céus da cidade naquele mês. Um suicídio. Era apenas isso. Culpavam os país, a sociedade, o mundo violento... Todo mundo buscou o dedo que empurrara o garoto para a morte. Mas ninguém entendeu o que aconteceu. Ninguém tampouco questionou-se sobre as possibilidades. Afinal, vivemos em uma sociedade onde há uma tampa para cada caixa. Cada ato é prescrito e um cristão sabe onde o bem vive e sabe principalmente onde o mal de cada um vive. Uma ou duas semanas foi o tempo necessário para cidade esquecer o acontecido. Isso, para os mais sensíveis, pois no dia seguinte a crise econômica estourou e todos estavam preocupados com seus bolsos. O garoto morreu tentando trazer a alegria do mundo. Ele conseguiu por um instante, mas as pessoas estão tão desesperadas e ainda são crianças do mundo, a aprender o banal. Elas erram, como eu. Julgamos e condenamos. E assim, matamos não apenas o corpo, mas a e

O Diário de Teegoh – Semana 33

Como posso casar-me com alguém que nunca vi na vida? Lembro-me daquela lânguida menina a me visitar nas férias... uma triste filha de nome farto das terras do além-mar. Raios! Não posso desposá-la simplesmente porque minha mãe tem um acordo com o pai da sortuda! Não! Não é que eu não possa... eu não QUERO! Mas, deixe vir... minha tão caridosa mãe chegará daqui dois dias... Hei de convencê-la que tal congruência não é digna mais, afinal vivemos no século XX! Enfim... para formar este teatro, meus colegas de classe estão a me irritar com este assunto. Estão a me chamar de “o sortuno” ou “o afortunado”... não acredito na sorte, do modo como eles a descrevem... bastardos!!

O menino que sabia das coisas (parte 3)

Ele não se conformou ao ler as noticias no jornal do dia seguinte. Compararam o ato do vôo das palavras com a censura e a queima dos livros nos períodos de ditadura no mundo. O garoto concluiu que ninguém deve ter lido as palavras recortadas, foi quando uma tristeza imensa tomou conta de seu coração. Mas, como toda tristeza há sempre uma grande esperança, o garoto entendeu o seu erro e logo buscou formas para continuar mandando alegria para as pessoas. Nesta busca, não foram necessárias mais do que uma noite não dormida para que o garoto encontrasse a solução. Como em uma conta de comparar as diferenças, ele repassou mentalmente o primeiro e segundo ato em busca da alegria. Ele era inteligente. Ele era solitário. No entardecer do dia seguinte. Um pedaço de madeira afixado no telhado de um dos prédios estava móvel e o ajudou a montar uma estreita ponte entre os dois prédios. Ele sabia o que fazer, e assim o fez. Com a mesma faca que apunhalou o travesseiro, ele viu que o grande propulso

O Diário de Teegoh – Semana 32

Semana passada, ainda disse em tom jocoso que para casar-me a mulher teria que ser quase que uma estátua. Questionaram-me os motivos para tal apelação com a vida. Disse que morreremos sozinhos, sem exceção, portanto qualquer busca por segurança não seria produtiva e que casamentos nada mais eram que acordos desesperados entre as pessoas para buscar um falso conforto. Evidentemente, ninguém concordou comigo e questionaram-me sobre o amor e sobre as demais coisas do gênero... Eu não quis mais discutir, pois percebi que eles não sabiam o que era o amor ou aquilo que eu sei ser amor é algo que ainda não foi alcançado por eles. Meus colegas de classe são toleráveis, contudo. Apesar de mais parecerem peças pré-moldadas de gente. Sinto-me confortável com eles, eles são divertidos e não toleram algumas das coisas que eu não tolero também e, por mais que me sinto como se estivéssemos vivendo em planetas diferentes, há uma tolerável proximidade entre nós. Às vezes, sinto falta de ter alguém que

O menino que sabia das coisas (parte 2)

No dia seguinte, o garoto leu no jornal da cidade uma pequena crônica sobre o acontecido. Suas plumas inspiraram a poesia em trechos corridos das folhas do dia. Ele sentiu que sua missão que nunca aceitara foi concluída. Ele não sabia, mas naquele momento ele teve um poder muito grande em suas mãos. Foi então que ele decidiu ir à biblioteca do colégio. Foram dias e dias entre os clássicos da literatura. O garoto consumia as obras desvairadamente, sem perceber as sensações de seu próprio corpo. Ele estava no estado de nirvana. Ele era um anjo, mas não sabia disso. Um anjo que não entendera a situação do mundo, tampouco a situação das pessoas. Pessoas desesperadas por amor, que cometem os erros mais cruéis ao tentarem serem correspondidas... Ele apenas estava feliz e com vontade de fazer algo a mais. Após duas semanas, o garoto recortara tantas frases dos livros que aquela biblioteca iria ficar conhecida no futuro como o lugar dos textos sem belas mensagens. Todas estavam nas mãos do peq

O Diário de Teegoh – Semana 31

Viver em Paris é esquecer as origens. Esta cidade cheira à boemia e a erudição. Busco ambos. Mas, nem sempre é fácil guardar as roupas de uma guerra. Por mais que elas fiquem no fundo de um baú, há sempre a sensação do se poder sentir o cheiro de lama e sangue impregnado em suas ancas. Mas, a imagem de um pesadelo não se consiste nas lembranças dos cheiros. Ela se forma naqueles que continuam a andar e usam os melhores perfumes. Os olhos de Tobias brincam com minha sorte ao julgar-me impiedosamente. Contudo, hoje o dia está mais para atitudes do que para lembranças. Porém o olhar daquela menina no quadro é perturbador também. Hoje não mais sei se é de fato uma menina ou um garoto. Ela (ou ele) é um tanto quanto andrógino... parece um anjo, que avistou a morte... Frente a morte, somos todos iguais. Somos todos iguais mesmo? Somos talvez todos iguais por sermos todos diferentes. Enfim, fazia tempo que não me sentia instigado a desvendar um olhar... isso, na verdade, só aconteceu uma vez.

O menino que sabia das coisas (parte 1)

Era uma vez um garoto, um pequeno e solitário garoto que vivia em dois apartamentos, nos dois maiores prédios da cidade. Seus pais, divorciados, mantinham uma guerra fria pessoal, onde ambos disputavam a atenção um do outro através do poder aquisitivo. Enquanto isso, o menino crescia... Ele, é fato, não perguntava os motivos para estar vivo ou os porquês das silenciosas brigas entre as pessoas. Ele simplesmente vivia. Um dia, ele decidiu subir até o teto de um dos prédios onde morava. Lá, ele sentia o vento frio tocar seu rosto enquanto ouvia os ecos de uma sociedade caótica aos seus pés. Mas, ele não percebia nem uma coisa, nem outra. Ele apenas vivia entre seus olhos azuis e a uma falta de vontade para tudo. Naquele dia, o menino descobriu a beleza do vôo de objetos mortos e decidiu construir a alegria de todas as pessoas. Ele então pegou uma faca que trouxera entre outras poucas coisas e, com um golpe preciso apunhalou seu travesseiro. Aos poucos, o vento gélido que tocava sua pele

O Diário de Teegoh – Semana 30

Essa semana o zelador da ala de alojamentos onde eu habito morreu de um ataque no coração. Este até então quase moribundo senhor, que em suas pernas tortas a mancar para lá e para cá o tempo todo, mal conseguia manter-se em pé. Às vezes ele me perguntava sobre as cores das roupas intimas das alunas ou então se eu tinha algum cigarro para passar-lhe. Um típico senhor solitário que gostava de conversar comigo e mais outros tantos alunos... Não entendo, contudo, os motivos que o levaram a deixar justamente para mim tal presente. Ah, e é evidente que ele sabia da visita da morte, pois deixara cada um de seus míseros resquícios materiais como presentes, embrulhados e amarrados com fitas coloridas. Um olhar penetrante, contudo plácido, como se soubesse o que lhe esperava logo à frente. Uma guerreira em forma de menina na neve. Tão branca... parece morta. Congelada. Seu sorriso talvez mais enigmático do que o da própria Mona lisa, parece espraiar-se frente ao incontestável destino da imorta