O gosto da descoberta
Era simples. Um coagulo de sangue estancado há anos. Com vida, porém quente: porém adormecido. Apenas esperando. Esperando... Até que o dia nasce. Ele acende aquilo que lhe faltava, como um milagre. Ele conhece o sabor da terra, o tenro gosto do ar a tocar os lábios. Já não era ele apenas uma gota...
O céu deu a chuva, que fez as corredeiras de fertilidade e amor, e assim se formou o barro. O homem pouco a pouco se desenhou contando com a gentileza do toque. Esculpiram-se os arredores do desejo em torno de um torço firme. O corpo era imaculado e portava todas as virtudes. Nenhum vício.
O sol trouxe a beleza das cores e os cachos dos seus cabelos tornaram-se brilhosos. Enquanto, como uma floresta, o corpo em pelo, explorava suas inconstâncias. Mas o despertar do dia trouxe também o outro, que não era tão belo, nem tão sábio, tampouco puro.
Era o dia em que a virtude se banharia no sabor do vinho de baco. E seja ele Adão, David, Sebastião ou Jesus... Sua pele enrijecia em virilidade e sua boca enrubescia de desejo, seu corpo, como uma harmoniosa orquestra, cantava a efetivação do desejo. Ele então se deliciara ao canto dos anjos e com os anjos.
O desenho do céu da noite se fez ao estopim do gozo, onde ele estampou o mapa da completude em formato de estrelas. Cuja lembrança contemplamos em dias de sorte. Nem mesmo o maior pintor entendeu aquela vida. Não há como expressar a solidão.
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