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A sensação, ao fechar a porta, era quase delinqüente. O furor da rua se calava instantaneamente e os cachorros não latiam mais. Deleitei-me nos segundos seguintes ao tirar meu calçado calmamente. Senti o cheiro da minha casa, mesmo confundindo-o com o cheiro da terra molhada do lado de fora.
Cheguei um dia a pensar que minha história demoraria apenas 16 anos. Hoje, a casa dos 20 ultrapassa a alvorada do meio e dedilha em mim mesmo a sensação da jovialidade quase esquecida. Posso dizer que sou os cacos de tantas histórias, sendo que hoje administro um quinhão delas, sempre me perdendo, mesclando-me à coisas insanas e alheias à mim.
Mas, a delicia ao abrigar-me no silêncio desses segundos só não é maior que a sensação de aconchego espalhado sobre minha cama.
Essa mensagem talvez não faça sentido... de fato, não é para ter sentido, pois, por um momento esqueço-me dos amores impossíveis, das mazelas do mundo e da incoerência... Apenas deleito-me em um ato explicitamente egoísta no gesto do meu corpo estender-se entre lençóis limpos.
Adormeço.
Segundos...
Acordo.
E o mundo volta a ser o que era.
Dentro de mim...
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