Sobre
Desculpe. Está difícil resistir a todas essas nuances de você. Sou eu quem não acredita no amor, sou eu quem não consegue tirar os olhos de você. Vamos lá, olhe para mim. Neste e em todos os próximos momentos possíveis. Olhe com olhos de fome, cuja única vontade é vir me dizer todas as mais mundanas das palavras. Esqueçamos por alguns instantes que nada disso terá consequências. Não sejamos cristãos. Não mais.
Estou sendo repetitivo. Não me importo. Se canse das minhas soluções improváveis para sermos dois. Sou a esperança termina quando começa a vida que criamos. Esqueça os meus monstros. Eles só ameaçam a existência deste imbecil que vomita inconsequências. Mas, veja bem, o teu nome pode ter qualquer ou todas as letras que existem, mas eu só me importo com aquilo que pode ser inventado.
Desculpe. Sei que sou trovão, as vezes assusto, mas o que seria eu se não o patético resquício daquilo que não existe mais? Sou aquilo que já se foi. Faço barulho. Mas, se pudesse causar qualquer dano, ele já devia ter acontecido. Mas não aconteceu. Nunca aconteceu... Enfim, chega de barulho! Nem mais os ventos das possibilidades podem movimentar a mediocridade de todas essas letargias. Restrinjo-me a minha insignificância. Para, enfim, matá-la.
Estou sendo repetitivo. Me desculpo por isso. Mas minhas desculpas nada mais valem do que apenas um protocolo que nos impuseram. Assim como todas as vezes que disse sim, mas queria dizer não. Mas, não se engane, nem todos os meus sorrisos eram traduções do meu coração. Nem todas as lágrimas, razões de um dor... Nem mesmo o meu silêncio pode ser a morada para as coisas que só servem para serem percebidas.
Giorgione
Tempest
c. 1505
Oil on canvas, 82 x 73 cm
Gallerie dell'Accademia,
Venice
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