Acusações sobre o tempo e sobre os traumas
Deve existir alguma fuga para o tempo. Talvez naquela curva da
alameda que eu tenho como rotina visitar aos primeiros sábados do mês. Eu gosto
de alimentar minhas rotinas. Elas existem para me dar conforto e me perceber
como dono de mim mesmo. Mas hoje, não me importa falar sobre o conforto. Quero
falar sobre a inconstância.
Nem tudo aquilo que não me matou me fortaleceu, do mesmo
modo que nem tudo aquilo que não me matou me deixou sequelas eternas. O
problema é o meio. É acordar assaltado por pensamentos incorpóreos, sem conseguir
dar nome ao que me aflige. Não foi
sonho, tampouco ansiedade em demasia.
Os assaltos noturnos, ou os relapsos diurnos são consequências
das pequenas mutilações que nos submetemos diariamente. Mas, veja bem, não falo
em lugar de vitimado ou de vitimador. Já vejo que sou as duas coisas, ou
melhor, eu sei que sou o acusado e o acusador das coisas que elegi dizer que
são minhas.
Nas alturas dessa idade (ou através da minha necessidade de
categorizar os sentimentos) fiz das minhas prioridades ser amante do silêncio
ao mesmo tempo em que eu me contradizia na famigerada vontade de falar e
fazer-me entender. Fui egoísta e individualista quando deveria ser mais empático
às importâncias dessa vida.
Ah! Mas os traumas existem! Eles quebram o conforto até das
simples caminhadas de sábado de manhã e te faz descobrir entre duas das tuas
lojas preferidas, um vão que sempre existiu, mas eu nunca havia visto. É nesse
espaço, entre o certo e errado, que o tempo se espreme para pegar impulso e te
jogar para longe.
E no chão permanece eu e minhas vontades, embriagado pelas
necessidades de construir algo simples, como um relacionamento regido pela
sinceridade. Mas, a rasteira do tempo também me tirou a dignidade e tenho que
me levantar para encarar o tempo que me resta. E mais escolhas devo eu fazer.
A vida é uma coleção de experiências. E eu quero as melhores
experiências, as verdadeiras! Pois o tempo é inequívoco e ele não vai esperar
eu errar todos os erros, por isso, tendo de ser o mais consciente e leal com
minhas vontades, mesmo nos momentos de dúvida. Afinal, o tempo é aquilo que não
te matou, mas vai te matar em uma próxima oportunidade.
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