O Maquinista (Parte 02) - Sobre a Graça da Posse

Aos poucos aquele galpão se tornou nossa casa. E os estranhos, uma cooperativa de individualistas. Não ficamos por lá tempo suficiente para escrever a história de gerações, mas isso também não se fazia necessário. Foi tempo suficiente para descobrir que logo ali havia uma encruzilhada e o maquinista que não existia, escolheu a revelia invadir aquele portal, ou túnel, ou passagem... seja o que for tinha aspecto de abandonado. Era, por fim, um imenso galpão.

Percebi que havia confiado minha condução a um maquinista que não existia e agora, sem poder culpar algo que não existe, só me restava lidar com a situação exatamente do jeito que ela se apresentava. Foi o galpão que fizemos de lar, ou melhor, que invadimos e fizemos de lar. Logo em seguida chegou a família que morava lá. A mulher era irmã de uma grande amiga genericamente desconhecida, mas que ansiava por notícias (Mas, da mesma forma que nunca soube que ela tivera tido, de fato, uma irmã eu também nunca tive notícias dela).

Havia, porém, um caminho paralelo! Justamente o caminho que deviam tomar àqueles que queriam continuar nessa jornada sem sentido. Percebi isso, talvez pela ânsia de não estagnar ou pelo súbito impulso de me proteger! Digo minha descoberta para me portar como algum tipo de herói, mas na verdade vinha como um trovão, a tremer o chão um outro bonde.

Era pela linha de trem que devíamos continuar antes do fortuito... Aos poucos aproximava da nossa localização e em alta velocidade um bondinho, só que para a direção contrária àquela que estávamos indo (e julgávamos como sendo o caminho correto). Ele voltava.

Como em um saque de esfomeados, alguns tentaram saltar para dentro do bondinho. Coisa que não deu muito certo, pois àquela altura não havia como voltar. A multidão de poucos foi acalmada por um sujeito qualquer, do mesmo modo que os bons vaqueiros fazem  com o gado. Foi dado a eles a noticia do além que logo um bondinho salvador viria resgatá-los. Se veio mesmo, eu não sei pois eu acordei.

FIM

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