O Maquinista (Parte 01) - Uma paz Anárquica

Cheguei, finalmente à estação do metro (que na verdade era algo mais próximo a uma estação de bondinhos super moderno – menos os próprios bondinhos, estes eram bem antigos). Passei a catraca e ocupei um curioso assento que ficava virado para frente da máquina. Este assento era bizarro porque eu o assumi desse modo. Ele impossibilitava qualquer outro ser humano com pernas de se sentar no assento da frente, cuja face se voltava para a lateral. O errado era este assento meio que improvisado porque eu assim, evidentemente, dizer.

Não sei se sabia para onde ia. Mas estava feliz por estar indo para longe. Sentada perto de mim em outro banco convencional só que após o corredor estava uma amiga que mora na Itália. Ela, e seus cabelos vermelhos, não conseguiam esconder a irritação por conta de uma amiga nossa cuja única forma de se mostrar próxima é insistentemente pedir conselhos em Italiano. Fiquei chocado ao saber essa falta de paciência. Amizades voláteis.

O bondinho não precisava seguir os trilhos. Ele era livre. Escolhia qual caminho tomar bem ao gosto do maquinista (que não existia). Quem entrava naquela maquina anárquica assumia para si os riscos de uma viagem que também não existia. Passamos pela cidade de outono, tinha uma insistente predominância do laranja e o cheiro de madeira molhada. Aos poucos saíamos do perímetro urbano e a paisagem se transformara. As pequenas e inexpressivas rodinhas do bondinho davam conta de passar por lugares que nem um carro de trilha passaria. Sem dúvida uma máquina excepcional.

Foi então que chegamos a um grande galpão que para mim se afigurou como um portal de um túnel (porque eu quis assim). No fim desse túnel/galpão a luz aumentava como se não tivesse tempo para perder com as bobagens do medo do escuro. No principio só se vislumbrava o branco, que, aos poucos se transformou nos tons terrosos e quando dei por mim estava grudado no painel da frente do bondinho. Eu gritava para que os freios funcionassem. E assim aconteceu antes que os bons metros que o bondinho ficara pendurado no precipício fossem suficientes para puxar todo a maquina para um final sem graça.

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