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Sobre o tempo e escolhas

Quantas palavras, em vão, foram gastas ao ermo do cotidiano. Penso que já me habituei com minha inteligência fabricada pelos esforços contra a mediocridade, mas nunca me deixarei levar pela ausência de esperança tampouco me enebriei com qualquer coisa que não valesse um esforço meu. Mesmo nos meus pioreis equívocos  que não foram poucos. A razão de tudo isso é justamente a ausência de razão. Se chegar o dia em que me sentir que não vale a pena querer ser sonho, eu saberei que de nada mais serei útil.  Porém, cansa-me a alma falar sobre o tempo. Pois ele, com suas volúpias engessadas em mentiras que todos contam, torna-se um mar calmo para aqueles que querem ser uma fantasia real. Isso é possível para mim. E penso que vou morrer a tentar: viver de outro meio simplesmente não cabe. E se é ditado que o tempo é capaz de afastar as pessoas, porque eu o vejo como a mesma ação do vento em uma caravela? O homem já viveu tempo o suficiente e é capaz de escapar, mesmo que apenas um algu

O fio da memória e os cabelos teus

O mais sádico dos prazeres configura-se naquilo que percorre os meus pensamentos. De tudo, ou cada parte – se-pa-ra-da-mente. Sou o que restou da incompletude dos sonhos de outrora e, devo admitir, é uma tarefa homérica deixar o castelo de cristal pois não consigo olhar para trás e deixar de lembrar os louros cabelos do meu primeiro amor a cambalear maliciosamente na ingenuidade da puberdade. Amor sete vezes amor. Sete anos construindo tijolo por tijolo desde castelo, para então cá repousar num sono profundo o precioso e imaculado vaso de mim mesmo. Deste modo, preservei-me intocado dos prazeres e dos gestos mortais, protegido pelas chaves da esperança de um final feliz. Com o tempo, os fulgores dos fios de seda que compunham os motivos da minha missão tornaram-se rotineiros marrons. Mas, mesmo assim, percebi que a beleza que eu via antes, estava a minha espera nos caminhos do prazer. Eu estava preparado para receber o sabor do delírio contigo. Você não, contudo. Hoje a confluên

O Jantar

O jantar estava completo. E como todos os sentimentos possíveis já estavam à mesa, foi questão de minutos para perceberem as vontades  mundanas se apresentaram através das trocas de mensagens ao invés de trocas de olhares. Nesse banquete o que não sobrou foram convidados de pseudo-complexidades diluídas em sentimentos contraditórios e servidos com rastros de descontentamento. Eu e minha estranha mania de unir em torno da mesa o doce e o amargo de se amar, flambado por ingenuidade tamanha que produz fogo azul, mas que apesar da suavidade da dança das chamas, queima de forma ininterrupta mesmo depois que findada. Eu tenho sido Anne e Celicy de mim mesmo. Sabotando-me! Mesmo que de forma inconsciente. Afinal, em um banquete não se junta dois prazeres em época de ebulição. Em uma mesa não se coloca cara a cara um estimulante avesso de ti. O resultado para quem buscou viver algo vertiginosamente perfeito cumpriu seu dever e se concretizou, mas de forma oposta a que fantasiada pelo a

Três parágrafos de você

Nunca tentaria te convencer de nada do que penso, pois, apesar de te ver no limiar do horizonte que ficou para trás do caminho que já percorri; você é a idade de todas as certezas e vontades de experimentar. De todo modo, não importa nada que venha de mim. São os teus pés que passarão por tuas vontades e desejos. Desenhando-os na cinza realidade ou simplesmente imaginando-os. Você, que hoje eu vejo como uma petulante semente de gente, prova que cavou as improbidades das mais descortinadas heresias a ponto de transforma-las em possibilidades do belo. Seja na pureza que talvez poucos consigam ver, nas grosserias para falta de capacidade de lidar consigo mesmo ou naquilo que simplesmente lhe escapa. É tudo teu e isso o torna único. Especial. Mas não pra mim ou por mim que aqui profiro essas vis palavras. Você é o que é pelo simples gosto de ser você mesmo e a isso eu rezo para nunca se perder.

Retalhos de um dia

Das destrezas, as alegrias se fizeram entre os caminhos ordinários do querer bem. Inventaram-se ao gosto do inconsciente e transformaram-se em você, meu delineado do desejo. Lá estava ele ou eu, não importa. Lá estava a vontade de um que era suficiente para dois. As linhas eram tênues, havia aquela juvenil curiosidade pelo outro. E isso era recíproco. Uma vil armadilha para aquele que preso está na própria solidão. Alimentadas foram as vontades secretas com o mais puro dos elixires possíveis. Mesmo que em folha de papel branco as letras frias em azul noturno já descreviam o fracasso. Acreditar na esperança da possibilidade da mudança foi um ato patético de ingenuidade. Deixa estar. Um dia há de haver uma ternura que me vista. A paciência em forma de taça carrega o vinho amanhecido. É o que tenho para essa noite. Nada mais.

Túmulo de Cinzas

Às vezes eu ignoro as tuas imagens que povoam na minha mente. É o meu ato de desespero para tentar seguir em frente. Esquecer-te e não suportar mais em meus braços o abraço no vazio. Correr não adianta. Sejam os atlânticos, os impasses ou os pesadelos morais: Tudo se tornou motivo de adeus. Onde havia cumplicidade hoje há tumulo de cinzas. E as lembranças impulsionam o desapego brotar, para a ausência se tornar tolerável. Talvez o erro tenha sido meu: Prostituir os meus sentimentos em contêineres homeopáticos somente serviram para disfarçar os sintomas dessa espécie de sanidade que se chama amor. Um amor que se derrama aos ventos, para dançar ao gosto do acaso e na fúria do tempo. Transforma o que resta nas dunas do mundo e retratos elaborados se formam como palavras, pois é tudo o que tenho de ti. E assim, as lembranças, as imagens e minhas vontades, povoarem minha mente como fantasmas malcriados. Reafirmados estão os medos, mas reascende a esperança. Pois errar é

Fotos não minhas

Tão persuasivo e doce é o cheiro de certa juventude inventada que me embebedo entre as fotografias que nunca foram eu. Escolho as que mais se encaixam em cada um dos meus desejos, das vontades e recalques; para então transformar-me num amalgama do avesso. Olho-me e não reconheço as marcas da realidade que pungem o meu coração, assim como o compasso dos batimentos sonorizam o caos da vida. Pois é assim que concluo que a transformação é um ato falho dado aos seres humanos como uma dádiva: que mais é como o ópio para os desesperados por prazer. Sou um pouco de cada coisa, e não negligencio isso. Mas sempre me figuro na ilusão de ser muito mais daquilo que não sou.  É o espelho a refletir as partes que não me cabem. Excluo tudo o que não me agrada e é com esses restos que moldo a barreira dentro de mim, para assim absorver suavemente todas as fúteis vontades pré-moldadas pelos tambores do contemporâneo. Busco então aliviar a tensão das engrenagens dessa maquina alimentando-a