As escolhas

Enquanto pequeno, lá entre o ideal principesco e as tendências profanas, percebia paulatinamente os prazeres de uma terceira margem. Os corrimãos que davam suporte ao cotidiano etéreo, também me asseguravam a possibilidade de sonhar. Sonhos que pouco se preocupavam com a concretização dos anseios, pois eles satisfaziam a necessidade de sentir-me capaz.

Mas, hora como cavalos a galopar ou uma pena ao ar, as escolhas deram face aos meus sentimentos e os sonhos confundiam os crepúsculos das ilusões. O corpo abundava os sinais das possibilidades, enquanto caracóis de pelos cresciam a insinuar um comprometimento com o tempo.

Não foi em um amanhecer, nem contava os contos dos segundos... simplesmente, foi se formando, pois assim, era certo. E então, aconteceu. Percebi minha escolha em poder escolher. Assumir a dádiva do livre arbítrio. Ser livre, em plenitude. Em êxtase me encontrei.

Mas, a escolha é apenas uma peça do teu quebra cabeça. A peça mestra, contudo não única. Montar o restante do quadro é o caminho escolhido e necessário. Para perceber então que outras peças não mais se encaixam.

Uma busca pelas possibilidades se consolida. A troca faz o quadro ganhar corpo, cada vez mais personalizado. Contudo, ele nunca se completará. Não é essa a intenção. No final, peças faltarão, outras tentarão se encaixar em vão, e alguns serão adaptadas. Como tudo.

Comentários

andré maia disse…
Talvez, afinal, os corrimãos continuem a suportar a possibilidade de sonhar. Daí as escolhas - o tempo de ser livre. O êxtase!...

As peças podem até não se encaixar, mas os corpos, esses, são o prolongamento da própria alma. Correm o risco de se completar, de atingirem a superlativa definição da ternura.

Apenas é preciso que a memória não se esconda nas esquinas dos calendários.

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