As desordens do silêncio
Entre as cobertas enrugadas de uma cama não feita, sonhos e expectativas movem-se silenciosamente. Algo brinca em meus pensamentos: são quase imperceptíveis, mas, ao mesmo tempo, totalmente ensurdecedores os sons que reverberam o titilar de cada idéia a se construir, de cada personagem a se desenvolver, de cada rima não concretizada por ignorância ou limitação.
A inconstância dos atos faz com que os erros tornam-se constantes admiráveis e eu brinco de ser quem não e assim perco um pedaço de mim em cada corpo mal repousado, em cada alma que conheço o cheiro perdido... o que sobra são idéias e perspectivas que crio. Não vejo ninguém, vejo apenas o que quero ver, até quando um qualquer petulante me traz de volta para o navio dos condenados.
Meus travesseiros coloridos e pesados... não mais bastava ser apenas um para tantas pessoas habitando uma única mente. E o que falar dos homens? Eles estão por ai, a buscar um pouco de pecado entre as palavras mal contadas de um contador contaminado de virtudes. O que falar dos anjos? Eles não me ouvirão contudo. O que falar de mim? Não pergunte, pois não gostaria de saber.
Mas, se teima em um dia sentir-me, levo as flores das tuas idéias e, em troca, construo você em um molde perfeito de falsas idéias. Minhas ilusões se desfazem ao primeiro risco no papel, suas curvas não são tão belas como as que eu vi... ou sonhei... ou quis ver... Mas, para tudo se há algo a guardar! Não é isso que dizem? Se teimares em ainda querer saber o que eu sou, posso dizer que parte de mim é ousadia, parte de mim é arrependimento.
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