O Diário de Teegoh - Semana 01

Deram-me este objeto que alguém impetuosamente o denominou como diário. Mas eu entendo bem os motivos que levaram a tal feitoria! Querem-me calar! Por começar minha própia mãe, que vive a repetir em todos os cantos deste casarão que minha educação vale menos que as botas velhas do merdeiro. Ela diz que falo demais, que ouso demais, que sou “moderno” demais. Quero que ela vá colher flores, para ser não dizer que quero que ela vá para um outro lugar!

Não a desejo mal! Não pense mal de mim, diário! (não vou pegar nenhuma mania idiota de conversar com um pedaço de papel mal acabado, isso é ridículo!). Retificando: Não a desejo mal! Apenas queria que ela me deixasse em paz! Essa casa é tão grande! Tirando a ala norte, a qual não vou nunca mais pisar (lá é a morada do fantasma moribundo do meu pai) ainda sobra muito espaço por aqui, onde eu posso ficar em paz.

Mas paz quem não mais tem é aquela moça que vi na festa de sexta. Estou sendo gentil (eu sou gentil!) ao chamá-la de moça, pois, de fato, de uma gralha doente e raquítica era mais se assemelha. Podre moribunda... deve ter sido violentada pois ainda não passou dos doze anos e já tem um bezerro gordo e chorão para amamentar... Ninguém comenta nada... e lá ficou ela, entre os bons, assuntando-se com seu jeito bizarro de encarar as pessoas, e seu modo esquisito de se portar... mas lá ela continuou e continuará sempre... pois alguém daquela boa família deve ter feito algo muito cabuloso para manter aquela mirrudinha em tão bom salão de gentes tão importantes.

Gentes importantes... francamente! São tão hipócritas! Tão banais... Divirto-me muito mais matando formigas! Contudo nada me diverte mais do que ver a cara das pessoas com os meus feitos! Rio só de lembrar! Tenho que me controlar até, pois se não minhas calças se molharão! Nunca vou me esquecer daquela sexta feira! Aquele rapaz... tão hipócrita, tão cínico! Ele pensa que não vejo as graças que faz mas desses olhos nada escapa!

O que é dele está bem reservado bem aqui, comigo! Sobre a sexta... tomei uma surra de fato, e uma daquelas bem dadas... bebi um pouco demais... dancei com as mulheres erradas... contei a elas algumas verdades... enfim... deu no que deu e cá estou, a recuperar meus olhos roxos. Enfim. Teegoh

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