Atuação de mim mesmo

Você pode até pensar que eu sou um garoto, um estudante, um artista, seu namorado, ou apenas um conhecido, seu segredo ou sua salvação... um ambulante, um zero a esquerda, um vidente, um estereotípico ou um e.t. Você pode me dar nomes, pode usar minhas meias e ouvir meus CD’s. Você pode me definir. Pode dizer que o dia foi feito para mim e que nunca mais haverá fome nesse mundo.

Mas o que importa de verdade? Será que são as convenções ou são as atitudes? Se forem as convenções, por favor, me mande o manual de instruções. Se forem as atitudes que nos moldam, lhe digo que as comparações são desnecessárias para se balizar algo. Se for um misto disso tudo, lhe digo que está errado, pois isso não simplesmente não é. Mas, por vez, acredito em uma terceira margem...



O que sou, na verdade, é um misto de mim mesmo e desse mundão todo. Sou a personagem enraizada em uma parábola incompreensível e sou o cotidiano de abordagens e convicções que não me levam a nada. Sou abrangente e flexível, mas não sou ilimitável: sou humano. Entretanto, mesmo sendo humano, não me permito errar e seria muito me permitir esse fausto, pois a ostentação de uma limitação se tornaria desculpa e acomodação. Sou dono dos meus atos, mesmo não sabendo a origem deles. Hoje, confesso que não mais me preocupo com as origens, o que quero saber é o que eu faço com tudo isso.


Você pode fazer de mim o que bem entender, e, por favor, não me entenda mal, o tempo todo fazemos isso. Só não se esqueça que por traz desse palco de hipocrisia e dissimulação há algo muito mais forte, capaz de transcender a qualquer palco de teatro.

Que se das palavras surgissem todas as explicações do mundo e dela a sabedoria plena, estaríamos em qualquer outro lugar que não fosse o cotidiano pão e circo. Que se das palavras e leis, convicções e moral houvesse uma verdade absoluta, não haveria guerra. Não haveria desavenças.


Confesso que isso está muito além da capacidade de entendimento de qualquer ser humano. Precisamos ainda aprender a engatinhar para depois então tentarmos dar nossos primeiros passos. No entanto algo é certo. O que é, é por si só! Mas, você pode dar o nome que quiser e pensar o que for... Afinal o que muda não é o que é de fato, mas sim qual é a melhor forma de você se iludir. Contudo, se o mundo nada mais é que um grande palco, onde todos nós dissimulamos para conseguirmos ser os protagonistas de nós mesmo dentro desse cenário caótico, não se esqueça que por detrás desses paramentos e máscaras de gesso, vive um ser que tem uma identidade e censo de sentido.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cem

Latente

O Jardineiro da Perversão