Desespero Particular: momentos de angustia

O momento é a angustia que come o meu cerne e deixa os ossos para aqueles que procuram o que tecer. Não sei se há presente embrulhado em papéis bonitos ou se é tudo caluniador. Não sei o que tentar fazer e como agir.


Estou trancafiado no meu quarto. Eu e meus perigosos pensamentos que fogem do meu controle, como se fossem estrelas cadentes que finalmente decidiram seguir suas próprias ambições. Mas quais são essas ambições? O que eu quero da vida, e o que esperam de mim? Será que sou capaz de mover um grão de areia? Será que sou capaz de algo? Será que sou CAPAZ?


Sinto meus pés, sinto minhas mãos e meu rosto não me agrada. São as lágrimas, são os pesadelos e devaneios desse mundo que me fazem sofrer nesse segundo infinito. Não há alguém que me aclame, porém acho que medo não tenho eu, mas estou estranhamente apavorado com tudo isso que está acontecendo e precisamente com o que pode acontecer.
Quero respostas, quero caminhos prontos, quero cama aconchegante e jantar posto na minha mesa de cristal. Quero saúde, quero você ao meu lado para sempre, mesmo que o para sempre seja o suficiente apenas para me tirar desse desespero infinitamente particular.


São minutos que não sabem voar. São aqueles insignificantes minutos que nos perdemos dentro de nós mesmos, que deixamos o desespero tomar conta da alma. Tudo parece se escurecer. Torno-me um casulo de desespero e dali ninguém consegue me rançar. Sofro e choro. Mesmo que em vão, pois ninguém me ouve nesse momento e mesmo que para ti eu guardo o grande e verdadeiro amor, não há como me salvar. Acho que é meu fardo, meu tempero de vida. Meu desespero particular.


Como esses momentos me desesperam! Me vejo nu, indefeso, sozinho e largado ao poder das eras. Não há nada ao meu redor, estou preso, estou sucumbindo em mim mesmo e nem o anjo mais intenso e belo poderia me tirar desse lugar, dessa clausura particular. Lá fora, o mundo está chuvoso, mas mesmo assim ele tem sua beleza. Eu vejo as lágrimas do céu, eu vejo as flores no banho nupcial, eu ouso a música e sinto o ar tocar meu corpo.


Parece que tudo foi em vão. Parece que foi um sonho ruim que não termina. Estou à procura de algo e tenho medo, mas não sei se é medo, ou melhor, acho que tenho medo, mas não sei do que. Lá fora, sou forte! Aqui dentro, sou os restos de uma esperança.


O telefone toca. Pulo de dentro de mim mesmo, sem pensar, sem ao menos respirar fundo antes de tomar alguma decisão sensata e racional. Quando percebo já não mais dentro do negro casulo estou mais. Respiro, por um momento sinto o ar gelado penetrar meus pulmões de modo virginal, porém aconchegante. Sinto a tua presença, e com ela, sinto a presença da esperança.

Mas era engano... O tempo parou e o mar das tormentas decepou-se em um lago de calmarias por um engano fútil e banal, por algo extremamente cotidiano. Sinto-me bem estranho, mas um pouco melhor. Acho que devo te ligar! Sim, vou te ligar! Mas e se ninguém atender ou der ocupado? Será que voltarei para o lado de lá? Talvez sim, talvez não. Vou tentar mesmo assim. Se eu não sobreviver, meu amor e meu amigo, digo-lhe tudo aquilo que quiseres ouvir e nunca foi dito. Mas se eu sobreviver, que tal um pedaço de chocolate?

Comentários

Anônimo disse…
Envolvo-me nas ondas magnéticas de um telefone imprevisto e deixo-me levar pelas coordenadas do número que marquei. Dou comigo a observar a rota das baleias - sempre igual, longe do caos urbano que ficou para trás.

De súbito sinto-me despejado sobre a matéria de que é feito o teu telefone. Timidamente, abro a porta do teu quarto - não te tinhas trancafiado totalmente!... Aceito o chocolate que me ofereces e aceito, também, o teu sorriso.

Agora vou querer ouvir tudo isso que nunca foi dito. As minhas orelhas são enormes e o meu tempo não tem medida.

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