Eu espero que volte
Quando eu morri, não percebi a ausência chegar. Vagarosamente, as cores deixaram de brilhar, E as nuances já não existiam mais. Deixei de ser corpo, gesto ou caminhar. Os passos, que antes eram coreografados ao gosto da minha vontade, mesmo no caos do existir, Estavam inertes entre as cadências dos dias. Quando eu morri, as horas continuaram as mesmas Mas os gritos não me atormentavam mais. Era o sossego do dia frio daquele feriado de terça. O silêncio era meu parceiro de uma vida eterna A ausência se instaurou e travou embate com o vazio. Quando eu morri a solitude se fez teto, O orvalho e a neblina da noite não me faziam sentir Deitado, nu, vi meu corpo inchar a ponto de supurar. Mas não percebia o corpo sendo meu. Não me via em mim mesmo. Éramos um estranho dentro de outro estranho. Quando morri, apenas me assistia passivamente A morte me trouxe a vontade, mas não me ensinou a viver Morri na ansiedade de esperar. Deprimido por estar.