O Jardineiro da Perversão
Passo 01 - Rejeição
Éramos empolgação. Sonhos alinhados, como nado
sincronizado. Sentia-me parte do segredo seu gostoso. Mas hoje não podia. Hoje
cada um ficaria no seu canto, para poder respirar a mentira... para poder
desfilar os ensejos da máscara.
Passo 02 - Depreciação
Eu não era bom. Ele dizia isso, mesmo que não fosse
indiretamente. Eu tentava construir um edifício, mas o terreno era arenoso
demais, e eu não conseguiria nunca sozinho fazer o que devia ser feito por
dois. Sussurros aos poucos tomavam conta de mim.
Passo 03 - Discriminação
Tinha certeza que eu não era bom em nada. Minha altura,
meu peso, meu jeito de falar e vestir... Até minha bondade fora questionada e
tirada de mim pois, nessa altura tinha vergonha de mim mesmo, de ser quem eu
sou e de achar que meu gostar não era bom demais para você.
Passo 04 - Humilhação
Os sussurros dançavam ao vento, enquanto esperávamos as
cortinas se abrirem para o derradeiro show. Eu tinha o silêncio, as implicações,
os surtos de nervoso, as cobranças e todas as culpas eram minhas. Mas, me
mantive resiliente. Era só uma fase, só podia ser uma fase.
Passo 05 – Desrespeito
Não passou. Aos poucos fui me tornando o medo de falar,
de me expressar. Controlava até como respiraria, com receio de causar a ira,
que tanto fugia. Eu só queria agradar. Minha cegueira e meu torpor escondiam
com o véu de um amanhã melhor, a desgraça que estavam sendo meus dias.
Passo 06 - Isolamento
Não podia falar com ninguém. Era nosso segredo, afinal.
Uma vez aceito esse acordo, ele não poderia ser quebrado. Mesmo que eu já
estivesse totalmente em pedaços. Tal ética que mantive, me serviu como
cativeiro e sentinela de mim mesmo. Não conhecia tal violência para dar nome.
Passo 07 - Intimidação
As tentativas de reencontro eram repreendidas. Me tirava
as forças, e talvez o mal em pessoa nem mesmo reconhece o que fazia. Não como
se estivesse dominado por um demônio, mas por ser parte integrante de si, a
necessidade de preencher suas carências e eternas faltas de amor.
Último Passo
Não fui ameaçado de morte. Pois nessa altura nem eu mais
acreditava que pudesse viver. A vida exauriu de mim qualquer vontade de ser eu
mesmo. O eu mesmo que via não passava de um monte de insegurança e confusão.
Talvez eu viva.
Kevin Bone - The Gardener |
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