Latente

Pulsa a necessidade criada por um sentir fabricado. Violentas notas agridoces martelam o ritmo do que é certo (porém inventado). Sigo em frente. Sou o que construí ser. Sou o afastamento do doméstico e languido esperar. Sou o grito pungente que angustia o inaudível cotidiano.

Violenta a expectativa de cruzar a linha. Quem inventou tal inalcançável lugar cujo vislumbre que posso ter é apenas o limiar de um espaço desforme. Miragem do espaço que deixo de lado pela graça do momento. A vaidade ou a inveja me transbordam de ontem. Me roubaram a infância. Adolescência não sei quem é... meus exageros são minhas desculpas para ser o que quero. Sou o que posso.

Ingratidão ao desespero, que insiste em me (re)ensinar os prazeres do sentir. Respiro e organizo meu dia nas caixas que me assombram com a dignidade. Visto aquilo que de melhor imaginam de mim. Enfrento as horas com sorriso no rosto, pois estou acorrentado ao fardo de não traduzir o que se passa no meu coração.

As portas do que sou estão fechadas. E assim vão continuar! Toda e qualquer tentativa de abri-las me causam náuseas. O cheiro forte do que é mais vil e torpe transborda nas evidências da minha ignorância. Violentos são os prêmios e títulos que carrego. Eles pesam e entortam as minhas costas com descontentamento de uma existência medíocre.

O motivo que me comove não alimenta minha obrigação de ser, ao contrário: parece abster qualquer subjetividade de sentir.... Talvez, ao criar o incompreensível, eu extrapole o espaço que me falta e então preencherei uma lacuna de humanidade. Talvez transcenda a minha estética do infinito. Porém, nada mais humano do que a necessidade de se comunicar, ou estaria eu, como meus adoráveis cachorros domésticos, em busca das próximas salva de palmas?

Henrik Aarrestad Uldalen


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