Eu espero que volte
Quando eu morri, não percebi a ausência chegar.
Vagarosamente, as cores deixaram de brilhar,
E as nuances já não existiam mais.
Deixei de ser corpo, gesto ou caminhar.
Os passos, que antes eram coreografados
ao gosto da minha vontade, mesmo no caos do existir,
Estavam inertes entre as cadências dos dias.
Quando eu morri, as horas continuaram as mesmas
Mas os gritos não me atormentavam mais.
Era o sossego do dia frio daquele feriado de terça.
O silêncio era meu parceiro de uma vida eterna
A ausência se instaurou e travou embate com o vazio.
Quando eu morri a solitude se fez teto,
O orvalho e a neblina da noite não me faziam sentir
Deitado, nu, vi meu corpo inchar a ponto de supurar.
Mas não percebia o corpo sendo meu.
Não me via em mim mesmo.
Éramos um estranho dentro de outro estranho.
Quando morri, apenas me assistia passivamente
A morte me trouxe a vontade, mas não me ensinou a viver
Morri na ansiedade de esperar. Deprimido por estar.
Sem sentido em ser. Morri enfeitado de mim mesmo.
Cujas lágrimas secaram no tintilar do tempo,
na esperança que eu voltasse.
Sutapa BiswasUntitled (The Trials and Tribulations of Mickey Baker)1997, re–edited and re–mastered 2002 |
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