Te ofereço minha adorável bagunça

Então você se sentou ao meu lado, como se eu pudesse assim vislumbrar de perto tudo aquilo que venho a sonhar esses últimos meses. Enquanto mantivemos a casualidade da conversa, tentava esconder aquilo que não podia dar nome ainda, mas eu me sentia pateticamente indefeso perto de você, e assim o meu olhar fugia do seu. Mas, eu aproveitava esses espaços para tomar coragem e então conseguir voltar a olhar os seus olhos e saborear o gesto de como me via. Ainda é enigmático.

Fazia isso de propósito? A calmaria parecia te guiar dessa vez, e eu já não mais conseguia me esconder em qualquer vantagem que a idade supostamente me dera. Será que estava a me testar o quão vulnerável eu ficava frente ao desejo que sinto por você? Estava a tal ponto que meu corpo acendia e transbordava de calor e suor, mais pelo anseio do que por ser um dia veraneio.

Será que percebia tudo isso e queria então me ver ultrapassar a fronteira da libido que impulsionava as palavras da concretização de um toque ou do primeiro beijo? Nessa altura mal podia me conter, tampouco tive condições de ter qualquer controle de mim mesmo. Por isso, era inevitável a inercia, enquanto o medo de dar um passo errado, não permitia sequer lembrar que podia tentar sugestionar qualquer possibilidade de ser teu.

Enquanto suas palavras me conduziam como a um cego na multidão, minha sorte era lançada nos teus dados de infinitas faces, e meu prazer estava nos momentos furtivos em que podia tocar as pontas dos teus dedos. Sim, você me testava! É bem mais astuto do que eu! Não deve haver outra explicação! Ou, caso haja, deve ser algo do gênero que me perturbara em demasiado.

O tempo brincava de esquecer da gente e parecia ver até onde podia ir meus devaneios de você. Mas você me trouxe o rubor ao insinuar uma troca de roupa, e me trouxe ódio, pois estava me levando ao limite de mim mesmo. Não podia deixar perceber que me deixara excitado e o pânico tomou conta ao imaginar a possibilidade de ter que me levantar daquele lugar. Eu poderia deixar viver as minhas mãos no teu corpo. Poderia ser o arqueólogo daquilo que lhe atrai e te dar todos os prazeres da descoberta.

Mas, pateticamente me mantinha naquela formalidade! Estava muito na defensiva para sair do acuado canto que me coloquei. Tive pavor ao perceber a representação dos meus anseios mais primitivos pudessem ser expostos de modo a anular qualquer sintoma de cumplicidade. Este meu gostar me transformou no descontentamento. Incomodado estou. Inquieto, mas resignado aos teus sinais do querer. E não me culpo pelo desejo de querer nossos corpos unidos. Isso é genuíno demais para gerar qualquer ranço de recriminação. 

Das verdades implícitas e dos sinais a serem desvendados, reservei para nós a terceira margem. Prefiro o caminhar pelo inusitado, cheias de tramas não roteirizadas. Que reine o improviso dos gestos, cuja ciência seja a vontade do conhecer, mesmo para aquele que pensara saber algo. Meu imediatismo deu lugar a esta montanha russa de sensações, mas não posso negar que tem sido um prazer imaginar o que pode vir a ser uma forma de nós mesmos. 

Te ofereço minha adorável bagunça. 

Crédito da foto: Lucas Murnaghan ‘Fall from grace’ 
https://www.instagram.com/lucasmurnaghan/

Comentários

jorgeferrorosa disse…
Lindo o seu trabalho. Amei. Já te sigo faz muito tempo. Amo o que você escreve.
UM abraço grande para ti.

Jorge Ferro Rosa

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