Tatuagem

Carybé -Ilustração de Cem anos de Solidão 


Se caso repousar em um campo inacessível aos olhos, pode encontrar a singeleza de ter uma surpresa a cada sussurro. Onde o esquecimento se faz necessário apenas para alegrar os dias que se depara com ela lá, cravada em suas costas com linhas e alguns sinais dos hormônios e idade.

Nua está, aquela bela menina, apenas sozinha dos outros dela mesma. Mas dorme amparada numa contextura de linhas que indicam todos os lados possíveis da ilusão de ser todas as nossas escolhas. Ela descansa! Pois nem o silêncio do vazio incomoda o sono profundo de um ser guardado pelo medo.

O lobo a preenche como em uma dança. Ele é sorrateiro e não perde o controle dos passos que não fazem ruídos e nem deixam sinais. Ele anda pelas faltas entre um devaneio e um surto e os preenche com o calor do toque, apenas para alimentar a ilusão que o amor é uma possibilidade.

Os sonhos salteiam em todas as direções, são prolíferos profícuos profanadores das alegrias, que carregam a ausência de um pai, mas a alegria da memória. Nesse momento os sonhos são coelhos e são livres. Elas não têm medo do lobo. Afinal, a ameaça da morte anunciada não se torna preludio para se levar uma vida de amarguras. Você pode fingir a felicidade.

Mas eu vejo além. Vejo que você se guardou no ventre dos esquecidos. Em sua desesperada busca para se encontrar entre todos os contornos da existência você é fogo e fumaça, como um guerreio Guarani. Teus olhos são de camaleão, e te camuflam no gozo da tenra idade. Lá existem três cores perfeitamente emparelhadas.

Se o prazer de viver só é possível quando pareada com o perigo das escolhas, tua energia se encontra no cerco de um abismo, cuja tua função é atravessá-lo de um lado para o outro e ser o apanhador dos refugiados de você mesmo. Onde a vaidade não existe. Onde o desejo não é passageiro e a plenitude é a regra mesmo do segundo mais fugaz. Pois enquanto todos enxergam o corpo, eu o vejo por inteiro.

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