Um dia azulado

Inquieto amigo, eu te conheço há algum tempo. Sei qual são os sons que você é capaz de fazer mesmo no silêncio de mil pessoas. Hoje você voltou e decidiu ocupar toda a minha cama. Mas só tem espaço para uma pessoa.

Sei que te decepcionei. Não sou mais o mesmo, apesar de ter essa insistente capacidade de engordar para os lados que me perdem. Eu sei que me esvaziei em alguma escolha. Eu sei que te deixei no momento em que mais eu te amava. Querido amigo, por favor, me desculpe.

Não importa o quanto ando. As ruas continuam frias e os olhos pálidos me escondem. Outro dia tentei ser invisível e acho que consegui. As pessoas não me veem ou talvez eu só tenho essa necessidade insuportável de ser notado por ser bom em não fazer nada.

As pessoas me cobram as melhores frases e as melhores festas e eu só quero ficar quieto. Obrigado por vir me ver querido amigo. Mas a tua presença me destrói. Sua face é a minha face, só que mil vezes melhor. Sou a tua versão esvaziada de sentido.

Onde está o meu orgulho? Por que veio falar comigo novamente? Não pode querer pisar ainda mais neste semimorto. Eu sei que você me vê. As pessoas falam em voz alta de como eu mudei, eu sei que devo me envergonhar, mas o que eu faço com todo esse não sentir?

Mas, meu velho amigo, eu não o culpo por ser a luz que perdi. Você mal existe na minha cabeça. Prefiro ainda minha medíocre vida do que a tua intenção perturbadora de morar nos meus silêncios.

Hoje você pode dormir na minha cama! Se embriague com todos os vinhos que guardei. Tome até a última gota e preencha com a tua escuridão todos os meus silêncios. Sei que é um cavalo indomável, já me acostumei com tua torpe feitiçaria. E sei que ela só irá embora quando eu morrer.

Christian Hopkins - Depression Series



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