O Guardião do Esquecimento

Minhas histórias não são perfeitas. Aproximo-me dos sonhos não pelo gozo da fuga, mas como ato de reconhecer no âmago de mim a saudade de tudo que construí, mesmo que como um castelo de cartas de baralho. Despedia-me de um amigo nesse dia, me despedia também de uma necessidade.

Sou metade de vontade e metade de erro, e somente te encontrei quando no seu beijo fiz pousada. Para mim, foi imortal. Você, na velocidade eufórica de todas as drogas e hormônios ditou um ritmo novo. Que evitou e destruiu qualquer possibilidade de reflexo, mesmo o de um espelho.

Nos dias seguintes, foi esquecido por ti. E só me cabe ter a criada certeza que assim o fez para lacrar algo que deveria ser sacro, mesmo que você não o considera do mesmo modo os meus sentimentos.  De todo modo, pouco importa! Esqueça ou esconda nossos beijos no sabor amargo do doce, do absinto e das musicas que já não mais lembro.

Torno-me o guardião de uma história de nunca aconteceu, mas vou zelar os gestos de te beijar, pois estes, eu não vou esquecer nunca. Ele é meu alento e danação, e se antes eu já me acostumara a viver apenas com a ideia de te ter como um nós, hoje eu ainda posso sentir o seu cheiro em meu corpo como um sinal de você em mim. Mesmo sabendo que logo sumirá.

Tuas impossíveis histórias se conciliaram com as minhas improváveis travessias. Você no sabor da idade me fez sentir o possível de novo, mesmo que em um relance entre meus dedos dançando nos seus negros cabelos. E, sem piegas vergonhas ou necessidades eu digo: grato eu sou!


Comentários

Anônimo disse…
Bom saber que, apesar da sua forma esquisita de ser, você ainda escreve alguma coisa que, mesmo bem ordenada, sintetiza um eu coletivo - portanto um "nós", nesse universo complexo do humano contemporâneo. Se foi paixão, não sei, mas tropece novamente comigo, pelas folias mineiras, e tenha a certeza de que um susto não terei, mas a posse do beijo "roubado". Antes que a ideia se finde.
J.C. disse…
Obrigado pelo comentário! Fico sempre lisonjeado quando percebo que um texto meu consegue dialogar com você, mesmo sem saber quem seja você! =)
Anônimo disse…
Resumo minha resposta ao seu comentário com a citação do Livro dos Conselhos que está situada nas primeiras páginas da obra de Saramago: Ensaio sobre a cegueira. "Quem tem olhos, vê. Quem vê, enxerga." ;)

Postagens mais visitadas deste blog

Cem

O Jardineiro da Perversão

Latente