Postagens

Mostrando postagens de maio, 2011

O fio da memória e os cabelos teus

O mais sádico dos prazeres configura-se naquilo que percorre os meus pensamentos. De tudo, ou cada parte – se-pa-ra-da-mente – sou o que restou da incompletude dos sonhos de outrora e, devo admitir, é uma tarefa homérica deixar o castelo de cristal pois não consigo olhar para trás e deixar de lembrar os louros cabelos do meu primeiro amor a cambalear maliciosamente na ingenuidade da puberdade. Amor sete vezes amor. Sete anos construindo tijolo por tijolo desde castelo, para então cá repousar num sono profundo o precioso e imaculado vaso de mim mesmo. Deste modo, preservei-me intocado dos prazeres e dos gestos mortais, protegido pelas chaves da esperança de um final feliz. Com o tempo, os fulgores dos fios de seda que compunham os motivos da minha missão tornaram-se rotineiros marrons. Mas, mesmo assim, percebi que a beleza que eu via antes, estava a minha espera nos caminhos do prazer. Eu estava preparado para receber o sabor do delírio contigo. Você não, contudo. Hoje a confluência de

O Diário de Teegoh – Semana 36

A dança desta noite foi cerceada pelas conversas triviais. As pessoas, nessa época do ano, têm o curioso costume de lamentar o verão passado. Não consigo imaginar ninguém daquele circulo a cavalgar, nem por um instante. Dolores Fleur, entre suas ancas que mais parecem montanhas de chantilly sequer conseguiria guiar um potro. Coitada. Porém, todos devaneiam sobre as maravilhas das férias e o contingente embutido desta época. De todo modo, a irmã de Fleur, a bruxa da semana passada, não para de me indagar certa curiosidade. Talvez por conta do pão de mel em formato de casa, talvez pelo olhar incisivo... Contudo, confio meu palpite na simples constatação que as pessoas daqui não são interessantes e ela pôde ter me surpreendido, justamente em um agudo momento de abstinência intelectual. Devo esperar mais um pouco nessa festa. Sorte é poder contar com meu caderno, mas veja, tal senhor insolente está olhando para mim enquanto fala qualquer coisa inútil para o outro, de vestimenta engraçada!

As razões do inexplicável

De todas as contradições e absurdos há uma, em especial, que me faz escapar as correlações do certo moral e do libertino sabor do prazer. A insustentável leveza do ser torna-se um paradigma subjetivo que perpassa pelos absurdos de um exemplo, contudo, diluído no cotidiano dos compromissos, não fica longe de nós a evidência que o caos do vazio pode proporcionar a dor de não ser. Liberdade tão bem cantada nas melodias novicentistas que ainda ecoam em nossa mente como um propósito possível... Embriaga, porém, a capacidade lógica de um direcionamento mental com as torpes volúpias chamadas de amor, paixão e desejo. Liberdade, a tal, que busca prender-se nas fivelas de uma história qualquer. História inventada entre capítulos retos. Onde, quando o desejo é ascendido por um instante, e concedido, resulta em um laço (ou algema) entre nossas vidas e a do outro. É um ciclo vicioso ou virtuoso? Erramos ou aprendemos? Não há como ser duas coisas! Mas somos! Somos a leveza de uma alma imortal encar

Carta de amizade

Se com o gesto pode mudar o mundo, imagine o que faz o tal amor ao invadir um desprevenido mortal? Mas não se assuste. A dor é tão fiel ao sentimento que nem a certeza da impossibilidade faz com que a ilusão se desvaneça. Jeito estranho de ser, este que nos traz a vida como um gargalo de contradições. A frágil ilusão briga com a plenitude dos fatos e ainda sai vitoriosa, “mesmo que com a dor de mil facas a cada passo”. É vivido e plácido. É viril e indistinto. É a certeza do não, mas com o gosto de sim. São sorrisos criados no rosto dele através do teu pensamento. Esses sorrisos não são pra ti, e você sabe disso. Ele sabe onde fica tua casa, mas não sabe onde você mora, onde vive teus distintos ases. No fundo, meu caro, é evidente que não há nenhum espelho de palavras capazes de refletir o ego dos teus castelos. Você tem consciência da gentil e cálida alma que tem, mas conhece bem as taças que ele usa para degustar os mesmos vinhos teus, as mesmas taras, os mesmos desejos. Indistintos