Apenas um desabafo

Há cinco anos eu, num misto de inocência e teimosia, fiz uma escolha que marcou para sempre a minha vida. Acredito que as horas só se tornam dias e meses, e por fim, anos porque fazemos escolhas e fazemos algo (que não sei denominar ao certo) se movimentar. O que sei é que o que vejo nem sempre me agrada, talvez por isso “escolhi também” estar sempre perto da beleza intrínseca das folhas caídas de outono e dos papéis velho, mas acredito nas pessoas.

Minha escolha não se aflorou no instante em que foi concebida. Ela era uma espécie de poção mágica que tem que ser feita minuciosamente e paulatinamente, com o acréscimo de cada ingrediente bem devagar, no momento certo... Infelizmente, nunca aprendi a receita ao certo (talvez porque nunca me explicaram o modo de preparo ou talvez porque o desafio fosse justamente eu ser autentico a ponto de ser perfeito sem atingir a perfeição já vista).

Hoje vejo como a poção ficou e, para lhe ser sincero, não sei se gostei do resultado, talvez porque eu tenha errado, talvez porque ainda não terminei... Procurava a liberdade. Pensei que havia a encontrado. Mas a perdi nuns poucos segundos depois, pois isso é uma ilusão que nem eu sou capaz de sustentar. Procurava a felicidade. Descobri que ela é fragmento de mim mesmo. Hoje tenho um papel que diz que sou algo, tenho uma coleção de Dvd’s e 1500 dólares na carteira que poderiam reger o meu próximo passo. O que vou fazer com isto? Comigo?

Amanhã partirei. Vou fechar a porta ao lado e já me sinto que o que me espera lá fora são tantas possibilidades, tantas possibilidades que talvez eu pediria um campo mais restrito de opções.
Amanhã partirei. Escolhi me submeter aos testes de uma academia de excelência. Não sei se o que sou é aquilo que eu quero ser. Apenas continuo caminhando pelos jardins que acho mais bonitos, infelizmente eu sempre vejo os espinhos.

A roupa que visto não é minha, sinto falta de um abraço. Pedia a liberdade, conquistei uma liberdade, porque tenho a sensação de nada ter neste momento? Será que você que ler isso me dará uma solução. Será que você me convidaria para lavar os pratos de um restaurante num país de outra língua? Será que eu aceitaria? Talvez fosse um começo, ou melhor, talvez fosse uma chance de me enxergar.

Hoje queria cozinhar algo que me desse um pouco de felicidade. Hoje queria comer todos os chocolates do mundo. Mas estou tão cheio. Estou cansado e sem paciência. Enquanto isso eu sei que há alguém pensando maldades... o que eu quero é a estranha paz de um cotidiano louco.

Amanhã, vou fechar essa porta... talvez eu a abra uma outra vez... talvez eu pegue um avião e viaje para onde o meu dinheiro permitir ir... Meu Deus, não sei nem mais no que pensar, são tantas coisas... tantas voltas... queria voltar para casa mas aquele que um dia morou lá já morreu e esta enterrado num passado que se chama o doce vazio de uma lembrança. Mesmo que eu abrisse a porta do interior, só encontraria a superficialidade de um rapaz que tentou se encontrar... seria um derrotado, não porque pudesse voltar, mas porque estaria explicitando o fim da minha busca de me encontrar, não sei.... nada sei... tenho apenas a sensação de que lá não me encontrarei mais.

Sei cozinhar. Sou feliz quando alguém gosta da minha comida. Sei lavar pratos, mas não gosto disso. Sei quem eu fui. Esboço o que sou. Sonho quem eu serei. Talvez eu dependa apenas de um sim... ou de um não... ou de um talvez...

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