A casa do novo e do mudar

É por muito, vos confesso, que passo horas a fio sem pensar em quase nada. Mas são nesses momentos que caio em devaneios e tempestades que nunca haviam me transpassado antes. Se antes eu tinha um sonho, hoje são pencas deles. Mas talvez o momento peça um caso interessante do descontinuado... O que eu ouvi dizer por essas ruas claras, devo a vós contar nesse instante, mas cautelosamente e aos sussurros, pois posso te assustar: Está a chegar um novo ano! Mas, por favor, não se choque tanto com essa bombástica revelação! Ela diz por si só que isso pode significar muita coisa, mas vos digo de coração, nada de fato mudará!

Ouviram dizer um dia desses, pessoas que não conheço, que alguns encontraram caminhos bons, outrora outros, se perderam em caminhos rasos e que a tabula redonda, que um dia decidiu o destino de alguns, hoje não é mais aquele clima tenso e eu sei que muita coisa mudou, mas eu ainda não vejo tantas mudanças assim.

Quem será esse tal “mudar”? Será que ele gosta de música ou de poesia? Será que ele é alto, baixo, gordo ou tem sardas na fuça? Não sei! Não o conheço, nem ao menos tento imaginá-lo, pois minha capacidade não é tão boa assim.

Eu mudei outro dia! Tirei a cachoeira que vivia do lado direito do meu castelo. Não queria ela mais por lá, foi então que decidi colocá-la mais perto do lago das sereias. Na verdade, não sei se elas gostaram muito, pois ultimamente elas nem cantando mais estão... Mas enfim, esse mudar pode causar muita confusão se não for bem mudada.

Mas eu ouvi dizer também que o mudar de ano é como o mudar de sapato se o dia for chuvoso, ou então, virar a folha do calendário... Talvez o melhor a ser feito é mudar mesmo! Mudar aquilo que não vos traz felicidade, mas não pense que o mudar está diretamente ligado a uma data, penso eu estar muito mais ligado ao espírito do tempo: do seu tempo!

O tempo pode ser cruel, mas na verdade quem está sendo cruel é você, consigo mesmo! Não culpe o tempo (ou a falta dele) por prometer e prometer, mas nunca cumprir àquilo que deu a sua palavra para si mesmo. Talvez se faça necessário perder um pouco de tempo para pensar, mas não finja que pensa, pois pensar gasta um tempo e se pensar demais (ou assim fingir fazer) perderá muito tempo, e seu tempo é preciso! Ao invés de prometer mudar, porque você não tenta dessa vez, só para testar, fazer algo novo de fato?

Tem tempo de sobra para todos. Tempo de deixar a hipocrisia e olhar para os seus lados, assim talvez você possa ver o sol, mas também vai ver as mazelas do mundo... Talvez você não entenda a principio o mundo em que vive, pois de fato não há muito que entender: as coisas não deviam ser como são, simplesmente. A questão toda esta em o que você vai fazer para mudar! Entendeu? Afinal, não é apenas descobrir quando você está com fome, mas sim também descobrir o que você deve alimentar.

Que todos os seus dias lhe tragam um pouco de paz de espírito para continuar.

Comentários

Anônimo disse…
Sou mesmo capaz de não estar nos meus melhores dias. É que o caso parece ser mesmo interessante!...

Toda a gente se apresta para vibrar com o novo ano e - ainda que possa parecer mal perguntar - o que foi que fez o ano velho para ser de tal forma votado ao ostracismo?

O interesse, contudo, não se esgota aí!... Descobri, por fim, a razão por que o descontinuado andou ausente. Pois é, aquela ideia de mudar a cachoeira para o lago das sereias, parece mais uma partida de carnaval. É que elas - as sereias - permitem concretizar os sonhos e, quando se calam, forçam-nos a caminhar em círculos sem nexo e gemometricamente oblíquos.

Se o Ulisses as não tivesse encontrado, ainda agora por lá andaria e a Penélope nunca haveria de terminar a manta.

Vá lá, meu amigo descontinuado, não te demores a pensar na aparência do tal "mudar"!... Olha, continua a caminhar da maneira que sempre fizeste: um pé após o outro, para que o equilíbrio não seja uma figura de ficção. Deixa que o teu sorriso suplante a hipocrisia e, principalmente, continua a acreditar naquele garoto que costumas encontrar no lado de lá do espelho.
ascka disse…
A vida é feita, basicamente, de duas opções, mesmo.

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