Pequenos fracassos

Mesmo que se eu juntasse a minha mão junto a tua, e nossas ideias se alinhassem e nossas vontades se tornassem as mesmas, mesmo que tudo isso acontecesse em apenas o infinito de um instante. O espaço vazio que existe entre nós ainda seria a morada onde eu retornaria como meu porto de acalanto. 

Não existe qualquer possibilidade de sermos aquilo que nunca fomos um para o outro. Creio ter superado isso, mesmo ainda sentindo o ranço sabor das memórias que nunca pude construir. Mas não seria possível ser algo novo? A dor que me fiz sentir quando me despejou palavras de descaso tornaram-se resquícios de uma mágoa craquelada, disforme, sem brilho...sem nada.

Teria me tornado um vazo corroído pela necessidade do orgulho que, com o sal das marés e ventos, esculpiram lentamente a minha alma em múltiplos formatos de amargura? E, se em um momento fui vitimado pelas tuas esquizofrenias do sentir, não teria sido eu aquele quem escolhera tomar o veneno do rancor?

A misericórdia que me mantem vivo é o que também me mata. Não consigo vestir minhas roupas e não me cabem mais nem minhas próprias ideias. Estou preso, mas minha cela não tem paredes, chão, teto... não tem nada! E o que me resta é o imenso vazio que sinto por não ser nem metade de do que já fui antes.

O único presente que trouxe dessa guerra foi o troféu de uma consciência tranquila por ter sido coerente ao que eu tenho como certo, mas minha casa está vazia, meu pai morreu e o mesmo veneno que o matou brota de tudo o que me escapa.

Que as fronteiras impostas a nós mesmos não sejam os abismos que criamos entre um aperto de mão e meia dúzia de palavras vazias. Que meus sorrisos sejam de felicidade e não de constrangimento... para então que, por fim, eu possa te olhar através do afeto que tanto busco e onde apenas encontro a obrigação de um cotidiano esquizofrênico. 

Bertha Worms - Saudades de Nápoles, 1895


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