Sobre o cotidiano

Nem toda manhã nasce para tormentas de nós mesmos, pois eventualmente buscamos novas chances em caixas velhas. Já não compactuo com a idade da imortalidade, tampouco busco qualquer elixir milagroso. Talvez seja também um erro suportar qualquer possibilidade de uma nova perspectiva de um olhar que está tão preso nos arautos do momento, cuja única perspectiva é ser um ininterrupto desmoronamento.

E nesta manhã eu tentei buscar alento nas tuas palavras, como alguém que acredita nas miragens do deserto. Queria lhe dizer coisas sobre a vida ou buscar a migalha que falta para vislumbrar um sim dentro de tantas incertezas. Mas você me deu mais de você, em generosas doses de ressentimento que talvez você só lembrará o motivo vil ao ler esse texto.

Não tenho nenhum elixir da boa vida. Tampouco carrego na minha bolsa o cálice sagrado que seria capaz de unir todos os povos. Queria poder lhe dar um livro com todas as respostas da vida, mas este presente seria totalmente inútil para alguém que só consegue ler a si mesmo. Enquanto me parece ser seguro pensar que as respostas estariam numa terceira via.

O sentido de um fim parece ser o anseio que temo em ver. Enquanto essa história insiste em se arrastar através das deformadas versões que pontuam meu caderno e minhas memórias. Ambos inúteis uma vez que s verdade das coisas não caminha de braços dados com as versões que construimos. 

Você se satisfez com minha presença. A presença de um objeto de palavras reconfortantes e estéril de sentimentos. Não importam quais cores enxergo no cotidiano, o quão macarrônico é a minha visão de mundo. Afinal, depois de todo o teu desabafo de uma manhã atípica, não devia haver espaço de um “e você?”. Não que não importa, apenas não importa para você.

jody kelly -  narcissus


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