Das coisas que costumamos guardar e nunca confessar.

Sou o bibelô que enfeita tua galeria de possibilidades para ilustrar um senso de vantagem. 
Enquanto ela faz o mundo acabar com você e você continua apenas dançando em transe.
Vejo teus passos tortos, vejo teus dias arrastados entre o tedio e o marasmo. Te adoro.
Pois você me disse certa vez: Ignora que passa. Mas você não me ensinou a te ignorar
E me pergunto: quem é você? Seria invenção da minha cabeça o que vejo?

Você continua dançando entre as fumaças que exala e as promessas do amanhã.
Ela é o alvo da vontade proscrita. Como uma máscara que não se encaixa na face dela.
Enquanto eu sou carência em forma de querer fazer diferente e provar que sou bom.
Enquanto, pateticamente, me derreto a cada monossilábica palavra que me profere.

Me lembro das vezes que estávamos juntos e me dói quando me trata como um estranho
Pois sei que a tua dedicação e zelo por ela é proporcional ao desprezo que sobra para mim.
Não me importo, pois sei que não só de flores vive você: para mim, reserva a libido.

A tua impressão tatua a pele enquanto tuas ideias de felicidades não fixam em lugar nenhum.
E você continua a dançar livremente entre a necessidade de um futuro com gosto de passado.

Sei que acedemos a amizade, mas seria mentira se assumisse estar feliz na tua estante
Sendo que é entre teus sorrisos que eu queria viver, e que essa argola de gosto duvidoso
Que adorna o teu dedo, para mim, só significa um grito sufocado de socorro.

Talvez eu não precise mais te esperar, e você se dilua na minha mente
Mas eu me conheço bem, sei que isso durará para sempre, como um retrato inacabado.
Queria poder sentir de novo aquele abraço embriagado de todas as vontades possíveis
Vejo que poderia ser tão bom o “nós”, pois já tenho um teto para chamar de nosso.

Conheci a tua casa desmantelada como uma frágil dobradura de papel.
Desvendei a tristeza de tua tenra idade em formas de linhas que te delineiam.
E os teus lábios me deram o gosto amargo do vício, mas o prazer infinito da liberdade.
Eu vi a pureza das tuas tortas escolhas e ouvi o teu grito mesmo quando dizia “deixa estar”
Mas nada disso me garantiu tua afeição, afinal nada é mais valioso do que uma doce ilusão.

E. Mucnh. Melancolia. 1891.

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