O Jantar

O jantar estava completo. E como todos os sentimentos possíveis já estavam à mesa, foi questão de minutos para perceberem as vontades  mundanas se apresentaram através das trocas de mensagens ao invés de trocas de olhares.

Nesse banquete o que não sobrou foram convidados de pseudo-complexidades diluídas em sentimentos contraditórios e servidos com rastros de descontentamento. Eu e minha estranha mania de unir em torno da mesa o doce e o amargo de se amar, flambado por ingenuidade tamanha que produz fogo azul, mas que apesar da suavidade da dança das chamas, queima de forma ininterrupta mesmo depois que findada.


Eu tenho sido Anne e Celicy de mim mesmo. Sabotando-me! Mesmo que de forma inconsciente. Afinal, em um banquete não se junta dois prazeres em época de ebulição. Em uma mesa não se coloca cara a cara um estimulante avesso de ti. O resultado para quem buscou viver algo vertiginosamente perfeito cumpriu seu dever e se concretizou, mas de forma oposta a que fantasiada pelo arquitetado. Ironicamente.


Eles, os prazeres, se sobressaíram e aos desejos mundanos brindaram, de forma direta, inconsequente, visceral e absurdamente bela. Mas eu não posso questionar dos desejos mundanos, apesar da dor que causa perceber a impossibilidade de ser quem sou, na forma de amor. Afinal, concretizar o que meu desejo torna-se demasiado.


O jantar acabou e nem os restos podem servir para algo. Em torno da mesa, como não podia deixar de ser, todos viram e compartilharam comigo essa jornada. Desde modo, não há espaço para brindar os que de foram ficam com a minha versão de floreios.

Comentários

J.C. disse…
a referência das personagens é do livro Bom dia, tristeza - Bonjour Tristesse - Francoise Sagan

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