A Caixinha de Retalhos

A caixinha velha de guardar retalhos e memórias que a minha avó me deu, guarda as dores da partida e o som daquele tempo me revelou um dom.

Se um dia, você se sentir como eu me sinto agora procure pensar que não é apenas um desafinado. Pois o meu coração bate forte ao lembrar a infância de outrora. Procurei hoje cedo um pouco de notícias de mim mesmo, e dos desenhos rasgados de rabiscos e traços tão desconexos dessa terrinha de sonho que encontrei durante a minha busca, me fez pensar em mais cores, em mais vida e na esperança do papel em branco.

E pode ser meio simplista até, mas a vida é sempre um papel em branco se você estiver a olhar para frente. Mas para moldá-lo é sempre bom ter contigo um pouco das cores da infância e das estações que se foram, mas se for difícil e pesado para ti carregar os medos daquele lugar, talvez a caixinha de retalhos que sua avó lhe deu o ajude.

Pense em um objeto pequeno. Um objeto que pode ser quadricular ou oval, mas se quiser também ele pode ser circular, ou em formato de coração. Ele tem todas as cores, num jogo de tons, onde flores e sonhos se deixam misturar e a musicalidade do arco-íris se faz presente no dançar dos sinais um pouco amarelado pelo tempo. Mas talvez os seus belos olhos prefiram um único e belo tom suave, ou forte, isso não importa, o que importa é o que carrega dentro dele... isso só depende de você.

Carregue os laços da sua casa e da sua família, mas de modo desprendido, leve, afável. Se o sol lhe balsama a face do amanhã com os sons de novos horizontes, carregue os laços livres, para que o vento possa banhá-los nas despedidas e na esperança de se passar mais um jantar em família.

A vida nos leva... Nos leva para olhar o belo e encontrar a beleza dentro de nós mesmos.
A vida nos surpreende com as ondas de boas novas e as tempestades de tristezas.
A vida é um dom, uma dádiva, a jóia mais bela do seu mundo.
A vida é a caixinha velha de guardar retalhos de lembranças que lhe faz ser o que você é, por isso, cultive os seus dias como se fossem morangos silvestres, aqueles que lhe faz ter a sensação da juventude quando você sente o aroma dessa singela fruta em seus lábios se desfazer de paixão.

Aprenda por vez, que alguns vão embora, mesmo você querendo que eles fiquem para sempre. Enquanto outros insistem em ficar, mesmo você os querendo bem longe. Mas, acima de tudo, aprenda e valorize aqueles que você ama. Sinta-os bem em cada singelo momento, desde os mais simples e cotidianos até os mais sublimes. Mas sinta o amor principalmente nos momentos de raiva e ódio, não deixe que os momentos de desencontro manchem o seu imo de encanto. Eu sei que é difícil, mas não é difícil tentar, o hoje também é um laço que deverá colorir o amanhã.

Mas enfim, conserve aqueles que você ama. São eles o porto seguro. Sua caixinha pode ser do modo que for, mas ela é do tamanho exato para guardar todos os laços de afeto e companheirismo, só não turve os seu aconchego de rancor, mesquinharia e descompasso.

Hoje não sei se sei enfrentar um adeus, mas sei que sempre terei todos vocês em meu coração de caixinha de retalhos, já um pouco amarelada pelo passar das horas.
Ainda não conheço bem o dom que me revelou essa caixinha que tanto preso, mas enfim... cuide bem da sua também.

Comentários

Anônimo disse…
Está diferente a caixinha dos retalhos!... As memórias assustam-se quando espreitam este presente que em nada se assemelha às "estórias" que as avós costumavam contar.

Tu, meu amigo, que ousas pensar-te pedante, foste capaz de desenhar um sorriso sobre o oceano e, face a ele, não tive como não sorrir também!...

Como podes ser pedante, se as tuas palavras são esse obje(c)to pequenino que encontrei ao abrir a minha caixinha?!...

Depois, naquele canto menos óbvio, no aconchego dos anos que se passaram, encontrei a pétala de um sonho. A cor já se perdeu, é verdade, mas, estranhamente, o perfume permaneceu. Talvez para que um "adeus" nunca seja necessário.

Queres ver?


http://www.youtube.com/watch?v=urplJeRb3ko
Anônimo disse…
Ops!... Se eu tivesse uma borracha, apagava "pedante" e escrevia "petulante". Na falta dela, fica a correcção. :)
Depois de muito tempo, de ter eliminado o meu espaço, ainda consegui recuperar e agora com novo endereço, mantendo o visual. vim até aqui, dar uma olhadinha e ver esta caixinha de surpresas descontinuadas, feita com muito amor, alegria e dura tristeza.
É mais um ano, mais uma vontade para caminhar. Deste lado para esse, desejo que tudo fique bem, assim como a todos os que você gosta. A vida é um curto traço e um dia quebra para sempre, faça você o que fizer. Continue a escrever belos textos. Memórias e sensibilidade eis o meu sorriso para você.

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